sexta-feira, 1 de outubro de 2010



Prefiro as máquinas que servem para não funcionar:
quando cheias de areia, de formiga e musgo - elas
podem um dia milagrar de flores.

(Os objetos sem função têm muito apego pelo abandono.)

Também as latrinas desprezadas que servem para ter
grilos dentro - elas podem um dia milagrar violetas.

(Eu sou beato em violetas.)

Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam a Deus.
Senhor, eu tenho orgulho do imprestável!

(O abandono me protege.)




[Manoel de Barros]

Um comentário:

  1. Flavinha, que lindeza de texto!
    "milagrar de flores" é algo que praticamente conseguimos enxergar... com os olhos da alma.

    Beijo

    Carla

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