segunda-feira, 23 de maio de 2011




(...)Um dia fico na praia. Mas fui verdadeira. Assumi minhas curtas verdades, assumi as mentiras compridíssimas, assumi fantasias, sonhos - como sonhei e como sonho ainda! Principalmente assumi o meu medo. Tudo somado, um longo plano de evasão fragmentado em fugas miúdas. Diárias. Que foram se multiplicando, não leio mais jornais, desliguei a TV com suas desgraças em primeiríssima mão, crimes humanos e desumanos, catástrofes e calamidades naturais e provocadas, ah! um cançaso. Por que ficar sabendo de tudo se nao posso fazer nada? Posso dar água aos flagelados ressequidos? dar uma toalha de rosto aos inundados? Hem?!... As tragédias se enredando sem trégua. Não tenho culpa se tomei horror pelo horror conformado. A miséria paciente. (...)


[Lygia Fagundes Telles, em As Horas Nuas]

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