terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Meus cabelos captam a voz das coisas do espaço e do inespaço. As coisas: fungíveis e infungíveis, móveis, imóveis e semoventes, operam o fenômeno ou são o númeno. Queiramos ou não, as coisas nos cercam, nos integram, ou são presença na nossa memória. E nos espreitam com o enigma de seu olho plurimático. Aonde ninguém vai, aí penetra o olhar de alguma coisas. Testemunhas de virtudes e munditudes, de todas as nossas contradições, do sem-saber-para-onde-ir. Levam a marca dos nossos usos e abusos. Sofrem conosco? Riem conosco? ou de nós? Confidentes na solidão, inconfidentes para a perícia. As coisas nos encantam e desencantam. Umas coisas, talvez, nos libertem algum dia, e outras decerto dependurada trazem a morte consigo. As coisas nos mandam e desmandam, formam, deformam, informam, transformam. As coisas nos assaltam e improvisam. Com o xadrez de situações elaboram mais a surpresa do que a expectativa. As coisas nos precederam e nos sucederão. (É preciso reagir contra certas coisas.) Sentimo-nos sós no meio das coisas.
Linhares Filho
Das Coisas
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