sábado, 3 de março de 2012



E eis que em breve nos separaremos

E a verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia

Eu agora sei, eu sou só

Eu e minha liberdade que não sei usar

Mas, eu assumo a minha solidão

Sou só, e tenho que viver uma certa glória íntima e silenciosa

Guardo teu nome em segredo

Preciso de segredos para viver

E eis que depois de uma tarde de quem sou eu

E de acordar a uma hora da madrugada em desespero

Eis que as três horas da madrugada, acordei e me encontrei

Fui ao encontro de mim, calma, alegre, plenitude sem fulminação

Simplesmente eu sou eu, e você é você

É lindo, é vasto, vai durar

Eu não sei muito bem o que vou fazer em seguida

Mas, por enquanto, olha pra mim e me ama

Não, tu olhas pra ti e te amas

É o que está certo

Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca

E tudo isso ganhei ao deixar de te amar

Escuta! Eu te deixo ser… Deixa-me ser!

Clarice Lispector

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