terça-feira, 23 de outubro de 2012

"Há algum tempo, venho pensando em escrever algo sobre aqueles que amam demais, aqueles que se transformam em cuidadores, mas me faltava uma compreensão maior desta condição que toma conta de muitas pessoas em seus relacionamentos. São homens e mulheres que têm o perfil do cuidador. Pessoas que amam demais e colocam as necessidades do outro como suas próprias necessidades, pessoas que compreendem demais e sofrem demais. Normalmente, pessoas de bom coração e hábitos saudáveis, que cultivam uma vida espiritual e verdadeiramente se importam com a vida alheia, no bom sentido... Porém, outro ponto nas características dessas pessoas foi se delineando como azar no amor. Em geral, essas pessoas vinham até a mim querendo entender por que o amor não estava dando certo em suas vidas, já que cuidavam tanto da vida do namorado, marido, amigo, familiar. O fato é que todos se sentiam tristes e abusados. Nas vivências de Vidas Passadas, sempre apareciam quadros de abandono, que se repetiam nesta vida. Era um traço comum na história dessas pessoas o pai ter morrido, ou abandonado a família. Às vezes aparecia a perda de pai e mãe, ou tinham os familiares vivos mas estavam distanciados, ou tinham relacionamentos difíceis. A questão é que faltava amor. Nessa falta, eles transferiam suas carências para os possíveis parceiros amorosos que eram tudo, menos parceiros. Porque ser parceiro de alguém significa andar junto, caminhar lado a lado, um aprendendo com o outro, dando suporte quando necessário, mas num fluxo positivo de dar e receber. Para essas pessoas, a vida estava funcionando em mão única, pois davam de tudo para os outros e recebiam quase nada, porém, nem todos se colocavam no papel de vítima, o que achei surpreendente. Juro que achava estranho alguém sofrer assim e ainda continuar na relação. Por que será que isso acontecia? Desta forma foi progredindo minha reflexão sobre o assunto até que recebi Dulce para uma consulta. Mulher alta, bonita, estudada, com uma boa colocação em sua profissão mas uma sofredora no amor. A sessão de Vidas Passadas mostrou novamente o perfil da cuidadora. Uma mulher que se casa por amor e que cuida a vida inteira do marido depressivo. Uma outra vida, mostrou uma moça que se criara sozinha depois que perdera os pais e que com muita luta conseguira se colocar num lugar de destaque na sociedade, mas permanecera sozinha porque arrumava apenas homens fracos, às vezes casados. Em lágrimas, ela se reconheceu nas histórias e desfiou mais situações tristes da vida atual. Ouvi, pacientemente, a repetição de toda uma ladainha triste de encontros, cuidados e desencontros, até que num determinado ponto da narrativa ela me disse: - “Maria Silvia eu controlo tudo, cuido de tudo, faço tudo o que a pessoa precisa para ser feliz, e depois sou abandonada. Não entendo por quê?” Subitamente, uma luz se acendeu em minha mente e perguntei para ela: - “Dulce, você acha que pode mesmo controlar tudo? Explicou que tentava de tudo para não sofrer pois perdera muita coisa na vida e não queria repetir isso, mas que sempre sofria, pois o que cativava sua atenção nas pessoas era justamente a necessidade de carinho do outro, de afeto. Falou sem parar por uns minutos até, que, de repente, olhou para mim e disse: - “Não acredito que estou estragando tudo, ao tentar agir no lugar do outro. Não sei o que está acontecendo, mas estou achando completamente ridículo o que estou dizendo para você. Não posso fazer a parte da outra pessoa. Estou tentando enganar o destino e criar uma felicidade que não existe, não quero mais fazer isso”. Amigo leitor, nem eu acreditava no que estava ouvindo. Esta moça também recebeu uma luz naquele momento porque conseguiu analisar sua história por um outro foco. É exatamente esse o objetivo na terapia, mas nem sempre as pessoas se abrem. Parece que todo mundo quer ser feliz e ter razão ao mesmo tempo e nem sempre isso é possível. Às vezes, para descobrir o caminho da felicidade precisamos abrir mão do nosso ponto de vista. Foi isso que Dulce fez. Ela abriu a consciência para uma outra percepção do seu caminho e descobriu que seus cuidados, na realidade, escondiam um desejo absurdo de controlar a vida, de limitar a ação do destino e as escolhas dos seus companheiros- o que é impossível. Por isso tanto sofrimento, já que as pessoas se cansavam de receber tudo pronto e também de serem manipuladas por ela. Para o amor dar certo precisamos ter o bom senso de perceber a hora de acolher e a hora de dar um empurrão e ajudar o outro a crescer, sabendo que em alguns desses empurrões a vida pode nos separar, porque nem tudo pode ser mantido para sempre. Em alguns casos, é muito mais saudável para todos os envolvidos uma libertação. Percebi também que quem cuida demais, na verdade, quer ser cuidado, mas usa o orgulho para se proteger de possíveis desprezos. Desta forma, vai cuidando, oferecendo tudo ao outro para manter a relação. Intimamente, está infeliz e desejoso de atenção, mas faz de conta que é auto-suficiente. Parece até uma roupa de “super-homem” que quando é vestida libera os super poderes... Mas, quem não se lembra da solidão do herói? Acho que combina mais com a felicidade sermos normais, pessoas que sentem emoções e não negam o sofrimento. Quem sabe, assim, não atraímos alguém que também queira nos cuidar?" [Maria Silvia Orlovas é uma escritora e forte sensitiva que possui um dom muito especial de ver as vidas passadas das pessoas à sua volta e receber orientações dos seus mentores.]

Um comentário:

  1. Oi. Tudo blz? Estive por aqui dando uma olhada. Muito legal. Apareça por la. Abraços.

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