sábado, 13 de julho de 2013




[...] Preciso tomar cuidado. Ângela já está se sentindo impulsionada por mim. É preciso que ela não perceba a minha existência, quase como que não percebemos" a existência de Deus.
Ângela ao que parece quer escrever um livro estu­dando as coisas e objetos e sua aura. Mas duvido que ela agüente o compromisso. Suas observações em vez de serem construídas em livro saem descompromissadamente de seu modo de falar. Como ela gosta de escrever, eu quase não escrevo sobre ela, deixo ela mesma falar.
[...]
— Quanto a mim também me distancio de mim. Se a voz de Deus se manifesta no silêncio, eu também me calo silencioso. Adeus.
Recuo meu olhar minha câmera e Ângela vai fi­cando pequena, pequena, menor — até que a perco de vista.
E agora sou obrigado a me interromper porque. Ângela interrompeu a vida indo para a terra. Mas não a terra em que se é enterrado e sim a terra em que se revive. Com chuva abundante nas florestas e o sussur­ro das ventanias.
Quanto a mim, estou. Sim.
"Eu... eu... não. Não posso acabar."
Eu acho que...



[Clarice Lispector]