quarta-feira, 31 de outubro de 2012

"Mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte - mesmo assim era bom viver. Não era fácil, nem agradável. Mas ainda assim era bom. Tinha quase certeza." [Caio. F]
'(...) depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.' [Caio. F]
"- Para onde cavalga o senhor? - Não o sei - respondi. Apenas quero ir-me daqui, somente ir-me daqui. Partir sempre, sair daqui, apenas assim posso alcançar minha meta. - Conheces então, tua meta? - perguntou ele. - Sim - respondi eu. Já disse. Sair daqui: esta é minha meta." [Franz Kafka]

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Mire veja: o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempre mudando, afinam e desafinam." [João Guimarães Rosa, escrita em 1956]
"A sociedade exige que sejamos bonzinhos, mas quem é bonzinho o tempo todo acaba enlouquecendo de verdade" (O Sucesso é Ser Feliz - Roberto Shinyashiki)
“‎Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar.” (Rubem Alves)
" Pessoas vão embora de todas as formas: vão embora da nossa vida, do nosso coração, do nosso abraço, da nossa amizade, da nossa admiração, do nosso país. E, muitas a quem dedicamos um profundo amor, morrem. E continuam imortais dentro da gente. A vida segue: doendo, rasgando, enchendo de saudade... Depois nos dá aceitação, ameniza a falta trazendo apenas a lembrança que não machuca mais: uma fras e engraçada, uma filosofia de vida, um jeito tão característico, aquela peculiaridade da pessoa. Mas pessoas vão embora. As coisas acabam. Relações se esvaem, paixonites escorrem pelo ralo, adeuses começam a fazer sentido. E se a gente sente com estas idas e também vindas, é porque estamos vivos. Cuidemos deste agora. Muitos já se foram para nos ensinar que a vida é só um bocado de momento que pode durar cem anos ou cinco minutos. E não importa quanto tempo você teve para amar alguém, mas o amor que você investiu durante aquele tempo. Segundos podem ser eternidades... ou não. Depende da ocasião." (Marla de Queiroz)

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"Morrer é um chiste. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu." (Martha Medeiros - Doidas e Santas)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

"Há algum tempo, venho pensando em escrever algo sobre aqueles que amam demais, aqueles que se transformam em cuidadores, mas me faltava uma compreensão maior desta condição que toma conta de muitas pessoas em seus relacionamentos. São homens e mulheres que têm o perfil do cuidador. Pessoas que amam demais e colocam as necessidades do outro como suas próprias necessidades, pessoas que compreendem demais e sofrem demais. Normalmente, pessoas de bom coração e hábitos saudáveis, que cultivam uma vida espiritual e verdadeiramente se importam com a vida alheia, no bom sentido... Porém, outro ponto nas características dessas pessoas foi se delineando como azar no amor. Em geral, essas pessoas vinham até a mim querendo entender por que o amor não estava dando certo em suas vidas, já que cuidavam tanto da vida do namorado, marido, amigo, familiar. O fato é que todos se sentiam tristes e abusados. Nas vivências de Vidas Passadas, sempre apareciam quadros de abandono, que se repetiam nesta vida. Era um traço comum na história dessas pessoas o pai ter morrido, ou abandonado a família. Às vezes aparecia a perda de pai e mãe, ou tinham os familiares vivos mas estavam distanciados, ou tinham relacionamentos difíceis. A questão é que faltava amor. Nessa falta, eles transferiam suas carências para os possíveis parceiros amorosos que eram tudo, menos parceiros. Porque ser parceiro de alguém significa andar junto, caminhar lado a lado, um aprendendo com o outro, dando suporte quando necessário, mas num fluxo positivo de dar e receber. Para essas pessoas, a vida estava funcionando em mão única, pois davam de tudo para os outros e recebiam quase nada, porém, nem todos se colocavam no papel de vítima, o que achei surpreendente. Juro que achava estranho alguém sofrer assim e ainda continuar na relação. Por que será que isso acontecia? Desta forma foi progredindo minha reflexão sobre o assunto até que recebi Dulce para uma consulta. Mulher alta, bonita, estudada, com uma boa colocação em sua profissão mas uma sofredora no amor. A sessão de Vidas Passadas mostrou novamente o perfil da cuidadora. Uma mulher que se casa por amor e que cuida a vida inteira do marido depressivo. Uma outra vida, mostrou uma moça que se criara sozinha depois que perdera os pais e que com muita luta conseguira se colocar num lugar de destaque na sociedade, mas permanecera sozinha porque arrumava apenas homens fracos, às vezes casados. Em lágrimas, ela se reconheceu nas histórias e desfiou mais situações tristes da vida atual. Ouvi, pacientemente, a repetição de toda uma ladainha triste de encontros, cuidados e desencontros, até que num determinado ponto da narrativa ela me disse: - “Maria Silvia eu controlo tudo, cuido de tudo, faço tudo o que a pessoa precisa para ser feliz, e depois sou abandonada. Não entendo por quê?” Subitamente, uma luz se acendeu em minha mente e perguntei para ela: - “Dulce, você acha que pode mesmo controlar tudo? Explicou que tentava de tudo para não sofrer pois perdera muita coisa na vida e não queria repetir isso, mas que sempre sofria, pois o que cativava sua atenção nas pessoas era justamente a necessidade de carinho do outro, de afeto. Falou sem parar por uns minutos até, que, de repente, olhou para mim e disse: - “Não acredito que estou estragando tudo, ao tentar agir no lugar do outro. Não sei o que está acontecendo, mas estou achando completamente ridículo o que estou dizendo para você. Não posso fazer a parte da outra pessoa. Estou tentando enganar o destino e criar uma felicidade que não existe, não quero mais fazer isso”. Amigo leitor, nem eu acreditava no que estava ouvindo. Esta moça também recebeu uma luz naquele momento porque conseguiu analisar sua história por um outro foco. É exatamente esse o objetivo na terapia, mas nem sempre as pessoas se abrem. Parece que todo mundo quer ser feliz e ter razão ao mesmo tempo e nem sempre isso é possível. Às vezes, para descobrir o caminho da felicidade precisamos abrir mão do nosso ponto de vista. Foi isso que Dulce fez. Ela abriu a consciência para uma outra percepção do seu caminho e descobriu que seus cuidados, na realidade, escondiam um desejo absurdo de controlar a vida, de limitar a ação do destino e as escolhas dos seus companheiros- o que é impossível. Por isso tanto sofrimento, já que as pessoas se cansavam de receber tudo pronto e também de serem manipuladas por ela. Para o amor dar certo precisamos ter o bom senso de perceber a hora de acolher e a hora de dar um empurrão e ajudar o outro a crescer, sabendo que em alguns desses empurrões a vida pode nos separar, porque nem tudo pode ser mantido para sempre. Em alguns casos, é muito mais saudável para todos os envolvidos uma libertação. Percebi também que quem cuida demais, na verdade, quer ser cuidado, mas usa o orgulho para se proteger de possíveis desprezos. Desta forma, vai cuidando, oferecendo tudo ao outro para manter a relação. Intimamente, está infeliz e desejoso de atenção, mas faz de conta que é auto-suficiente. Parece até uma roupa de “super-homem” que quando é vestida libera os super poderes... Mas, quem não se lembra da solidão do herói? Acho que combina mais com a felicidade sermos normais, pessoas que sentem emoções e não negam o sofrimento. Quem sabe, assim, não atraímos alguém que também queira nos cuidar?" [Maria Silvia Orlovas é uma escritora e forte sensitiva que possui um dom muito especial de ver as vidas passadas das pessoas à sua volta e receber orientações dos seus mentores.]
"(...)Meu coração por certo tempo passeou Na madrugada procurando um jardim Flor amarela, flor de uma longa espera Logo meu coração ateu Se falo em mim e não em ti É que nesse momento já me despedi Meu coração ateu não chora e não lembra Parte e vai-se embora" . . . . [Maria, A Bethânia]
"Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo." (Pitágoras)
"Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser..." (Álvaro de Campos)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

"Avisem-me se eu começar a me tornar eu mesma demais. É minha tendência." [Clarice Lispector]
"Quando você se compromete com o seu melhoramento, tem que renunciar a muitas coisas da sua rotina, do seu comportamento emocional. As mudanças poderão até ser dolorosas, mas jamais estéreis." [Marla de Queiroz]
"Porque entre o sim e o não é só um sopro, entre o bom e o mau apenas um pensamento, entre a vida e a morte só um leve sacudir de panos — e a poeira do tempo, com todo o tempo que eu perdi, tudo recobre, tudo apaga, tudo torna simples e tão indiferente." [Lya Luft]
"A vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue." [Martha Medeiros]
"Segundo a profecia Maia, o mundo acabará no dia 21 de Dezembro. A pergunta é: Para você, quantas vezes o mundo acabou? Ainda que um copo d’água com açúcar ou um bom porre o tenha feito perceber que era pura frescura, aposto que pelo menos uma vez na vida você já teve essa sensação, a terrível sensação de fim do mundo, um acidente ou qualquer baque doloroso o suficiente para tirá-lo do eixo. Quem nunca?A perda do emprego, do amor ou do cartão do banco; a morte de alguém importante A vida é um constante abrir e fechar de ciclos e exagerando um pouquinho, dá para dizer que ao longo da estrada a gente vê o mundo acabar (e recomeçar) algumas vezes. A gente morre e renasce a cada queda – eis a (des)graça de existir. Esqueça aquela história de cultivar o jardim para contar com as borboletas. O segredo, o grande segredo, é aprender a ressurgir cada vez que seu mundo acabar." [Flávia Queiroz]

terça-feira, 9 de outubro de 2012

"Nas noites claras de luar, costumo ir das águas ouvir o vão lamento; e, após o ouvi-las, cauteloso e atento que o rio também sofre, eis que presumo. Nesse que leva tortuoso rumo, que fado triste e por demais cruento: Vai deslizando agora doce e lento e agora desce encachoeirado e a prumo. O dorso aqui lhe encrespa leve brisa, ali o deslizar calhau lhe veda; além, de novo, sem fragor, desliza... És como o rio, coração tristonho: Se ele vive a chorar de queda em queda, vives tu a gemer de sonho em sonho." (Belmiro Braga)


"Morre o pobre e nem caixão Vai no esquife, que desgraça! Para o cemitério passa Sem padre nem sacristão!... Quem fará esta excepção?... Se é Deus que rege os destinos Dos grandes e pequeninos, E todos são filhos seus... P'ra desmentir esse Deus, Morre o rico, dobram sinos. Diz, padre, que leis são essas Que servem p'ra ti somente... Tu confessas toda a gente E à gente não te confessas... Diz por que tanto te interessas Nesses segredos que encobres, Porque é que não te descobres Nos jornais ou num sermão, Dizendo porque razão Morre o pobre e não há dobres? Só os ricos são gerados, Dessa Virgem, desse Deus?... Só eles são filhos seus E os pobres são enteados?... Padre, tu só tens cuidados Com os ricos, teus compadres, Que deixam ir as comadres Esmolinhas oferecer A Deus, sem ninguém saber... Que Deus é esse dos Padres?... Qual é o Deus que autoriza, Ao rico, mil esplendores, E aos pobres trabalhadores, Nem pão, nem lar, nem camisa?... Manda, p'ra quem não precisa, O oiro, a prata e os cobres, Palácios, honras de nobres!... E eu, triste farrapo humano, Julgo esse Deus um tirano, Que não faz caso dos pobres."

(Glossas, Bernardo de Passos)











"De repente acordo e Vejo bem perto De mim, colado quase ao meu, desnudo, Também, cansado, inerte no veludo, O corpo dela, sem censura, aberto O coração, de sentimento incerto, Às vezes, mesmo, indiferente a tudo. De tanto vê-la assim me desiludo E me entristeço sempre que desperto. Sem esperança de acordar com ela, Eu fico preso ao meu amor constante E paro, e penso e sinto, num instante, Quando ela dorme, assim, imóvel, bela: ...Eu dos seus sonhos estou tão distante, Que nem parece que estou junto dela."





(Abdias Sá, João Pessoa, 1981)

"

Acordei! A casa estava quente como o meu corpo. No silêncio do quarto a percepçåo De que o amanhå havia acabado de despertar. Entre olhos sonolentos, O corpo arrepiado, Transformou a superfície lisa em leves ondas. Todos os músculos foram esticados. Cada fibra estendida ao extremo. A boca abriu-se... Na frente o espelho revelava a silhueta, Que dengosa percebeu suas formas delicadas Nas curvas acentuadas. Sorri... O tempo nublado percorreu e penetrou no aposento. Intrometido! Transformou a quietude com o suave zumbir dos ventos. Trocou a cor pálida das paredes. Deu vontade de cobrir, ficar encolhida, quieta. Era hora da partida que nåo pode deixar para amanhå o adeus de todos os dias. Deixei que os minutos passassem, nåo fiz queståo de segurá-los. Que o tempo nublado chegasse, penetrasse todos os meus poros. Que as horas permitissem aos minutos serem donos do tempo. No peito arfante os dois elementos se misturaram, nublando Meus pensamentos. Fizeram do corpo moradia."

 

(Tereza Cristina Fraga)