quarta-feira, 21 de novembro de 2012

''Ela é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos (nem tão discreto assim) e olhar misterioso. Ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice, uma sensibilidade de flor, um jeito encantado de ser, um toque de intuição e um tom de doçura. Ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude, uma solidão de artista e um ar sensato de cientista. Ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo. Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna." . . . . Caio F.
"Eu sei que existe um caminho mais conservador, convencional, menos excêntrico. Muita gente caminha por ele, já tentaram me dar o endereço. Mas eu, definitivamente, só sei fluir no contrafluxo…" [Marla de Queiroz]

domingo, 4 de novembro de 2012

"Não é porque eu fui enganado que não acreditarei mais no amor. Não é porque alguém foi interesseiro e quis me usar que devo renunciar minha ingenuidade. Não é porque tentaram me destruir que perderei a suavidade. Não serão o ódio ou rancor que me farão abandonar a gentileza. Você não merece me receber pela metade. Não merece pagar os danos que outra causou. O ceticismo não vai me contagiar. Suspe ita não é inteligência, prevenção não é sabedoria. Não irei desconfiar de você por lealdade ao passado. Traio o passado para ser fiel às nossas palavras. Nenhuma experiência me ensinou a ser você antes. Estou sendo você agora. Não lhe dou chance, dou a minha vida. Chances são esmolas da memória." [Carpinejar]

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

"Mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte - mesmo assim era bom viver. Não era fácil, nem agradável. Mas ainda assim era bom. Tinha quase certeza." [Caio. F]
'(...) depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.' [Caio. F]
"- Para onde cavalga o senhor? - Não o sei - respondi. Apenas quero ir-me daqui, somente ir-me daqui. Partir sempre, sair daqui, apenas assim posso alcançar minha meta. - Conheces então, tua meta? - perguntou ele. - Sim - respondi eu. Já disse. Sair daqui: esta é minha meta." [Franz Kafka]

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Mire veja: o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempre mudando, afinam e desafinam." [João Guimarães Rosa, escrita em 1956]
"A sociedade exige que sejamos bonzinhos, mas quem é bonzinho o tempo todo acaba enlouquecendo de verdade" (O Sucesso é Ser Feliz - Roberto Shinyashiki)
“‎Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar.” (Rubem Alves)
" Pessoas vão embora de todas as formas: vão embora da nossa vida, do nosso coração, do nosso abraço, da nossa amizade, da nossa admiração, do nosso país. E, muitas a quem dedicamos um profundo amor, morrem. E continuam imortais dentro da gente. A vida segue: doendo, rasgando, enchendo de saudade... Depois nos dá aceitação, ameniza a falta trazendo apenas a lembrança que não machuca mais: uma fras e engraçada, uma filosofia de vida, um jeito tão característico, aquela peculiaridade da pessoa. Mas pessoas vão embora. As coisas acabam. Relações se esvaem, paixonites escorrem pelo ralo, adeuses começam a fazer sentido. E se a gente sente com estas idas e também vindas, é porque estamos vivos. Cuidemos deste agora. Muitos já se foram para nos ensinar que a vida é só um bocado de momento que pode durar cem anos ou cinco minutos. E não importa quanto tempo você teve para amar alguém, mas o amor que você investiu durante aquele tempo. Segundos podem ser eternidades... ou não. Depende da ocasião." (Marla de Queiroz)

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"Morrer é um chiste. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu." (Martha Medeiros - Doidas e Santas)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

"Há algum tempo, venho pensando em escrever algo sobre aqueles que amam demais, aqueles que se transformam em cuidadores, mas me faltava uma compreensão maior desta condição que toma conta de muitas pessoas em seus relacionamentos. São homens e mulheres que têm o perfil do cuidador. Pessoas que amam demais e colocam as necessidades do outro como suas próprias necessidades, pessoas que compreendem demais e sofrem demais. Normalmente, pessoas de bom coração e hábitos saudáveis, que cultivam uma vida espiritual e verdadeiramente se importam com a vida alheia, no bom sentido... Porém, outro ponto nas características dessas pessoas foi se delineando como azar no amor. Em geral, essas pessoas vinham até a mim querendo entender por que o amor não estava dando certo em suas vidas, já que cuidavam tanto da vida do namorado, marido, amigo, familiar. O fato é que todos se sentiam tristes e abusados. Nas vivências de Vidas Passadas, sempre apareciam quadros de abandono, que se repetiam nesta vida. Era um traço comum na história dessas pessoas o pai ter morrido, ou abandonado a família. Às vezes aparecia a perda de pai e mãe, ou tinham os familiares vivos mas estavam distanciados, ou tinham relacionamentos difíceis. A questão é que faltava amor. Nessa falta, eles transferiam suas carências para os possíveis parceiros amorosos que eram tudo, menos parceiros. Porque ser parceiro de alguém significa andar junto, caminhar lado a lado, um aprendendo com o outro, dando suporte quando necessário, mas num fluxo positivo de dar e receber. Para essas pessoas, a vida estava funcionando em mão única, pois davam de tudo para os outros e recebiam quase nada, porém, nem todos se colocavam no papel de vítima, o que achei surpreendente. Juro que achava estranho alguém sofrer assim e ainda continuar na relação. Por que será que isso acontecia? Desta forma foi progredindo minha reflexão sobre o assunto até que recebi Dulce para uma consulta. Mulher alta, bonita, estudada, com uma boa colocação em sua profissão mas uma sofredora no amor. A sessão de Vidas Passadas mostrou novamente o perfil da cuidadora. Uma mulher que se casa por amor e que cuida a vida inteira do marido depressivo. Uma outra vida, mostrou uma moça que se criara sozinha depois que perdera os pais e que com muita luta conseguira se colocar num lugar de destaque na sociedade, mas permanecera sozinha porque arrumava apenas homens fracos, às vezes casados. Em lágrimas, ela se reconheceu nas histórias e desfiou mais situações tristes da vida atual. Ouvi, pacientemente, a repetição de toda uma ladainha triste de encontros, cuidados e desencontros, até que num determinado ponto da narrativa ela me disse: - “Maria Silvia eu controlo tudo, cuido de tudo, faço tudo o que a pessoa precisa para ser feliz, e depois sou abandonada. Não entendo por quê?” Subitamente, uma luz se acendeu em minha mente e perguntei para ela: - “Dulce, você acha que pode mesmo controlar tudo? Explicou que tentava de tudo para não sofrer pois perdera muita coisa na vida e não queria repetir isso, mas que sempre sofria, pois o que cativava sua atenção nas pessoas era justamente a necessidade de carinho do outro, de afeto. Falou sem parar por uns minutos até, que, de repente, olhou para mim e disse: - “Não acredito que estou estragando tudo, ao tentar agir no lugar do outro. Não sei o que está acontecendo, mas estou achando completamente ridículo o que estou dizendo para você. Não posso fazer a parte da outra pessoa. Estou tentando enganar o destino e criar uma felicidade que não existe, não quero mais fazer isso”. Amigo leitor, nem eu acreditava no que estava ouvindo. Esta moça também recebeu uma luz naquele momento porque conseguiu analisar sua história por um outro foco. É exatamente esse o objetivo na terapia, mas nem sempre as pessoas se abrem. Parece que todo mundo quer ser feliz e ter razão ao mesmo tempo e nem sempre isso é possível. Às vezes, para descobrir o caminho da felicidade precisamos abrir mão do nosso ponto de vista. Foi isso que Dulce fez. Ela abriu a consciência para uma outra percepção do seu caminho e descobriu que seus cuidados, na realidade, escondiam um desejo absurdo de controlar a vida, de limitar a ação do destino e as escolhas dos seus companheiros- o que é impossível. Por isso tanto sofrimento, já que as pessoas se cansavam de receber tudo pronto e também de serem manipuladas por ela. Para o amor dar certo precisamos ter o bom senso de perceber a hora de acolher e a hora de dar um empurrão e ajudar o outro a crescer, sabendo que em alguns desses empurrões a vida pode nos separar, porque nem tudo pode ser mantido para sempre. Em alguns casos, é muito mais saudável para todos os envolvidos uma libertação. Percebi também que quem cuida demais, na verdade, quer ser cuidado, mas usa o orgulho para se proteger de possíveis desprezos. Desta forma, vai cuidando, oferecendo tudo ao outro para manter a relação. Intimamente, está infeliz e desejoso de atenção, mas faz de conta que é auto-suficiente. Parece até uma roupa de “super-homem” que quando é vestida libera os super poderes... Mas, quem não se lembra da solidão do herói? Acho que combina mais com a felicidade sermos normais, pessoas que sentem emoções e não negam o sofrimento. Quem sabe, assim, não atraímos alguém que também queira nos cuidar?" [Maria Silvia Orlovas é uma escritora e forte sensitiva que possui um dom muito especial de ver as vidas passadas das pessoas à sua volta e receber orientações dos seus mentores.]
"(...)Meu coração por certo tempo passeou Na madrugada procurando um jardim Flor amarela, flor de uma longa espera Logo meu coração ateu Se falo em mim e não em ti É que nesse momento já me despedi Meu coração ateu não chora e não lembra Parte e vai-se embora" . . . . [Maria, A Bethânia]
"Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo." (Pitágoras)
"Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser..." (Álvaro de Campos)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

"Avisem-me se eu começar a me tornar eu mesma demais. É minha tendência." [Clarice Lispector]
"Quando você se compromete com o seu melhoramento, tem que renunciar a muitas coisas da sua rotina, do seu comportamento emocional. As mudanças poderão até ser dolorosas, mas jamais estéreis." [Marla de Queiroz]
"Porque entre o sim e o não é só um sopro, entre o bom e o mau apenas um pensamento, entre a vida e a morte só um leve sacudir de panos — e a poeira do tempo, com todo o tempo que eu perdi, tudo recobre, tudo apaga, tudo torna simples e tão indiferente." [Lya Luft]
"A vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue." [Martha Medeiros]
"Segundo a profecia Maia, o mundo acabará no dia 21 de Dezembro. A pergunta é: Para você, quantas vezes o mundo acabou? Ainda que um copo d’água com açúcar ou um bom porre o tenha feito perceber que era pura frescura, aposto que pelo menos uma vez na vida você já teve essa sensação, a terrível sensação de fim do mundo, um acidente ou qualquer baque doloroso o suficiente para tirá-lo do eixo. Quem nunca?A perda do emprego, do amor ou do cartão do banco; a morte de alguém importante A vida é um constante abrir e fechar de ciclos e exagerando um pouquinho, dá para dizer que ao longo da estrada a gente vê o mundo acabar (e recomeçar) algumas vezes. A gente morre e renasce a cada queda – eis a (des)graça de existir. Esqueça aquela história de cultivar o jardim para contar com as borboletas. O segredo, o grande segredo, é aprender a ressurgir cada vez que seu mundo acabar." [Flávia Queiroz]

terça-feira, 9 de outubro de 2012

"Nas noites claras de luar, costumo ir das águas ouvir o vão lamento; e, após o ouvi-las, cauteloso e atento que o rio também sofre, eis que presumo. Nesse que leva tortuoso rumo, que fado triste e por demais cruento: Vai deslizando agora doce e lento e agora desce encachoeirado e a prumo. O dorso aqui lhe encrespa leve brisa, ali o deslizar calhau lhe veda; além, de novo, sem fragor, desliza... És como o rio, coração tristonho: Se ele vive a chorar de queda em queda, vives tu a gemer de sonho em sonho." (Belmiro Braga)


"Morre o pobre e nem caixão Vai no esquife, que desgraça! Para o cemitério passa Sem padre nem sacristão!... Quem fará esta excepção?... Se é Deus que rege os destinos Dos grandes e pequeninos, E todos são filhos seus... P'ra desmentir esse Deus, Morre o rico, dobram sinos. Diz, padre, que leis são essas Que servem p'ra ti somente... Tu confessas toda a gente E à gente não te confessas... Diz por que tanto te interessas Nesses segredos que encobres, Porque é que não te descobres Nos jornais ou num sermão, Dizendo porque razão Morre o pobre e não há dobres? Só os ricos são gerados, Dessa Virgem, desse Deus?... Só eles são filhos seus E os pobres são enteados?... Padre, tu só tens cuidados Com os ricos, teus compadres, Que deixam ir as comadres Esmolinhas oferecer A Deus, sem ninguém saber... Que Deus é esse dos Padres?... Qual é o Deus que autoriza, Ao rico, mil esplendores, E aos pobres trabalhadores, Nem pão, nem lar, nem camisa?... Manda, p'ra quem não precisa, O oiro, a prata e os cobres, Palácios, honras de nobres!... E eu, triste farrapo humano, Julgo esse Deus um tirano, Que não faz caso dos pobres."

(Glossas, Bernardo de Passos)











"De repente acordo e Vejo bem perto De mim, colado quase ao meu, desnudo, Também, cansado, inerte no veludo, O corpo dela, sem censura, aberto O coração, de sentimento incerto, Às vezes, mesmo, indiferente a tudo. De tanto vê-la assim me desiludo E me entristeço sempre que desperto. Sem esperança de acordar com ela, Eu fico preso ao meu amor constante E paro, e penso e sinto, num instante, Quando ela dorme, assim, imóvel, bela: ...Eu dos seus sonhos estou tão distante, Que nem parece que estou junto dela."





(Abdias Sá, João Pessoa, 1981)

"

Acordei! A casa estava quente como o meu corpo. No silêncio do quarto a percepçåo De que o amanhå havia acabado de despertar. Entre olhos sonolentos, O corpo arrepiado, Transformou a superfície lisa em leves ondas. Todos os músculos foram esticados. Cada fibra estendida ao extremo. A boca abriu-se... Na frente o espelho revelava a silhueta, Que dengosa percebeu suas formas delicadas Nas curvas acentuadas. Sorri... O tempo nublado percorreu e penetrou no aposento. Intrometido! Transformou a quietude com o suave zumbir dos ventos. Trocou a cor pálida das paredes. Deu vontade de cobrir, ficar encolhida, quieta. Era hora da partida que nåo pode deixar para amanhå o adeus de todos os dias. Deixei que os minutos passassem, nåo fiz queståo de segurá-los. Que o tempo nublado chegasse, penetrasse todos os meus poros. Que as horas permitissem aos minutos serem donos do tempo. No peito arfante os dois elementos se misturaram, nublando Meus pensamentos. Fizeram do corpo moradia."

 

(Tereza Cristina Fraga)


sábado, 29 de setembro de 2012






"...Tudo no mundo nasceu com um sim.
Uma molécula disse sim a outra molécula
e nasceu a vida...."

[Clarisse Lispector]

sexta-feira, 28 de setembro de 2012



"Vai, alegria
Que a vida, Maria
Não passa de um dia
Não vou te prender
Corre, Maria
Que a vida não espera
É uma primavera
Não podes perder"

[Chico Buarque]

domingo, 16 de setembro de 2012






“Tudo que eu queria era estar dentro de você agora, neste domingo, às 07h da manhã”, me diz ao telefone. Respondo com voz sonolenta e um tanto sarcástica: “veja como a vida é irônica: estou a 16 km do seu desejo e a 100 anos-luz da minha vontade de satisfazê-lo...
Repenso o que eu disse: “seria muito bom se só quiséssemos o inevitável, não o impossível”. Seria.

(Marla de Queiroz)

terça-feira, 11 de setembro de 2012

"Entrando ou saindo
Sem face me movo
Deambulando em cores minhas
De fogo ou terra

Sem face, procuro ver para além daquilo
que o além for
Saindo de mim espalho-me pelo espaço
que não é meu

Procuro o chão que não sinto
Procuro o sentir que me queime

Que me doa
Quem me ame
Que me pise
Me segure...

Insegura no passo
vou
deambulando em cores tão só minhas

Não sei sentir o que será
para além de além

Piso-o
Não escorrego
Ando firme num chão que não tenho"

(Teresa Maria Queiroz)
"Sou assim...

Prosa e poesia
canto e lamento
alegria e solidão

rosa nascida na pedra
ave de asas cortadas
vulcão que ainda fumega
chuva em pleno verão

Sou assim...

Metáfora bordada
nos versos do poema
que o tempo não apaga

Sou, enfim...
bordados de mim.

(Cada uma de nós tem seus pontos cheios ou em cruz, bordados e rebordados, tecidos nas próprias veias...)"

(Ariadna Garibaldi)





'Quando o cinza de um dia taciturno bate dentro da gente, sentimos uma dor gostosa, como a melodia dos poetas. Num instante sentimos um prazer calmo e solene. Se isso ocorrer com você um dia qualquer, não faça por menos, curta esse dia minuto a minuto, não se envergonhe, nada é ruim se você se enquadra na sua felicidade. Calce a poesia e ande.'

(Paulo Baleki)




"Abra essa garrafa,
É vinho d’outra safra,
É poesia curtida,
Mas pode ser sorvida.

É perfume de alfazema,
Composto em um poema,
Veste a alma de alegria,
Desaperta em si a magia.

Todo poema é assim,
Um mar azul sem fim,
Água que beija a areia,
Ao canto de uma sereia.

E quando fala de amor,
O coração vira flor,
A alma se veste de lua,
E a paz se torna nua.

Na verdade me inebria,
Quando me toma a poesia,
Me eleva ao paraíso,
E de mais nada eu preciso".

(Santaroza)





"E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais.

Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo."

( Rubem Braga -Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.)
'Que a saudade é o revés de um parto
 A saudade é arrumar o quarto
 Do filho que já morreu.'


(Chico Buarque)

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

'(...)E nasci apaixonada pelo amor, mas só agora, me fazendo companhia, é que ele deixou de ser uma palavra para se tornar uma experiência.
Sou muito grata por estar na esquina aonde eu estava passando e por ter me dado a mão...Caminhamos juntas: eu comigo mesma!'
*
*
(Marla de Queiroz)




'(...)O que a vida exige de mim é constante aceitação e mudança_ para que eu continue sendo merecedora da minha Boa Sorte e valorize a cada dia mais a Esperança.'

(Marla de Queiroz)
"(...). Mas o passado, já dizia aquela música que escutei repetidas vezes, é uma roupa que não me serve mais."

(Marla de Queiroz)






'A melhor estratégia para sair de um drama pessoal é a auto esculhambaçāo. Levar-se a sério é patético.'

(Rita Lee)

terça-feira, 14 de agosto de 2012








"(...)Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não.
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração."

    Fernando Pessoa, 15-11-1930.






Tudo quanto penso,
 Tudo quanto sou.
 É um deserto imenso. 
Onde nem eu estou.

(Fernando Pessoa)
"Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo."

(Friedrich Nietzsche)







“Feliz de quem entende que é preciso mudar muito pra ser sempre o mesmo.” 

(Dom Helder Câmara)

terça-feira, 7 de agosto de 2012








"O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa"

(Fernando Pessoa - Alberto Caiero).







"É necessário morrer a cada dia, morrer a cada minuto, para todas as coisas, para o ontem e para o momento que acabou de passar! Sem morte não há renovação, sem morte não há criação."



Krishnamurti






"Ninguém tem que buscar a si mesmo. A gente só tem que aprender a não se rejeitar. Se dar colo, aprender a receber afeto, querer afeto e saber que não virá aquela hora. A gente tá ali dentro o tempo todo, mas é preciso se olhar com olhos amorosos. Porque fazemos o que podemos diante do que sentimos. E há sempre uma forma de ser e estar além. Quando dói nada disso faz sentido. Mas um dia faz. E funciona."

(Marla de Queiroz)

domingo, 5 de agosto de 2012








Tão sutilmente em tantos breves anos
foram se trocando sobre os muros
mais que desigualdades, semelhanças,
que aos poucos dois são um, sem que no entanto
deixem de ser plurais:
talvez as asas de um só anjo, inseparáveis.
Presenças, solidões que vão tecendo a vida,
o filho que se faz, uma árvore plantada,
o tempo gotejando do telhado.
Beleza perseguida a cada hora, para que não baixe
o pó de um cotidiano desencanto.

Tão fielmente adaptam-se as almas destes corpos
que uma em outra pode se trocar,
sem que alguém de fora o percebesse nunca.

(Tão sutilmente em tantos breves anos - do livro "Secreta Mirada",Lya Lft)







Mas se eu tiver que ser sozinha, serei inteira
serei plácida, como o lago que espera a chuva
como a chuva que busca a manhã.
 
E se eu tiver que ser escura, serei grandiloquente
se tácita, valente
se árida, compreensiva, ao menos
se ainda assim severa... então liberta.
 
E se me perder de tudo, e até do fim...
possivelmente eu serei nova
como o verão, no céu de janeiro
como janeiro, no céu de Paris!
Seja lá onde for Paris...          
 
Hoje, em qualquer lugar, longe daqui. Longe, longe...


(Leila Kruger- Longe)


Onde é que eu fui parar?
Aonde é esse aqui?
Não dá mais pra voltar
Por que eu fiquei tão longe?
Longe...
Onde é esse lugar?
Aonde está você?
Não pega celular
E a terra está tão longe
Longe...
Não passa um carro sequer
Todo comércio fechou
Não tem satélite algum transmitindo
notícias de onde eu estou
Nenhum email chegou
Nem o correio virá
E eu entre quatro paredes sem porta
ou janela pro tempo passar
Dizem que a vida é assim
Cinco sentidos em mim
Dentro de um corpo fechado
no vácuo de um quarto no espaço sem fim
Aonde está você?
Por que é que você foi?
Não quero te esquecer
Mas já fiquei tão longe
Longe...
Não dá mais pra voltar
E eu nem me despedi
Onde é que eu vim parar?
Por que eu fiquei tão longe?
Longe, longe, longe, longe
Longe, longe, longe
Seis, cinco, quatro, três, dois, um.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

"Cheguei a pensar então em não insistir mais, disse para mim mesmo repetidas vezes que talvez fosse melhor para nós três que eu saísse imediatamente dali para não voltar nunca mais. Mas qualquer coisa me obrigava a permanecer."


 — Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 19 de julho de 2012


"Trata de saborear a vida;
e fica sabendo,
que a pior filosofia é a do choramingas
que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas.
O ofício delas é não parar nunca;
acomoda-te com a lei, e trata de aproveitá-la."

(Machado de Assis)
"Sinto que vai passando, que não quero mais morrer, que estou mais próximo de mim mesmo, e que tudo isso – de alguma forma que ainda não compreendo bem – é necessário. Matar as ilusões, dar fim aos ciclos, amputar os membros putrefatos."

(Caio F.)

domingo, 1 de julho de 2012

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa se demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.

(António Ramos Rosa)
- O que há em mim é sobretudo cansaço Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço. A subtileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto alguém. Essas coisas todas - Essas e o que faz falta nelas eternamente -; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada - Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço. Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço... (Álvaro de Campos) .
"(...)Entretanto o arco-íris tem voltado todas as noi- tes e isso é um bom sinal" (Saramago)