sexta-feira, 30 de abril de 2010




‘Como se tivesse uma coisa que só acontecia entre ele e eu.
Uma coisa que era um pouco essa vontade minha de ficar olhando
sem parar pra ele? Podia ser essa vontade,
misturada com aquele medo’


[Caio F.]

quinta-feira, 29 de abril de 2010




"...sabia que tinha alguma coisa fora do lugar em mim. Eu era uma soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, idéias, ideais, nem me preocupava com política. Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não-ser. E aceitava isso. Eu estava longe de ser uma pessoa interessante. Não queria ser uma pessoa interessante, dava muito trabalho. Eu queria mesmo um espaço sossegado e obscuro pra viver a minha solidão. Por outro lado, de porre, eu abria o berreiro, pirava, queria tudo e não conseguia nada. Um tipo de comportamento não se casava com o outro. Pouco me importava."


[Charles Bukowski]



"A resposta completamente horrível é que ninguém sabia fazer nada: os poetas, escrever poemas, os mecânicos, consertar carros, os dentistas, arrancar dentes, os barbeiros, cortar cabelo, os cirurgiões se estrepavam todos com o bisturi, as lavanderias deixavam as camisas e os lençois em farrapos e perdiam as meias da gente; o pão e os feijões tinham pedrinhas no meio que quebravam os dentes; jogadores de futebol eram uns poltrões, os funcionários da telefônica estupravam criancinhas; e os prefeitos, governadores, generais, presidentes, tinham tanto juízo quanto as lesmas colhidas por teias de aranha. E por aí vai. Pode dar o que quiser pra raça humana que ela acaba esgravatando, arranhando, vomitando e mijando em cima."

[Charles Bukowski]

:O



Gostava de ser tomado como um dos meninos maus. Gostava de ser mau. Qualquer um podia ser um bom menino, não precisava de culhões. Não queria ser como meu pai. Ele apenas fingia ser mau. Quando você é mau, você não finge, isso simplesmente está aí. Gostava de ser mau. Tentar ser bom me deixava doente.


[Charles Bukowski]

quarta-feira, 28 de abril de 2010




"Fui injusto - um pouco - ou excessivo com você. Ma non troppo.

(...)

Após dez meses de ausência, sem trabalho, sem casa sem nada. Discretamente enviei sinal de socorro aos amigos. Ninguém ajudou. Me virei sozinho. Isso me endureceu um pouco mais. Não foi só você.

(...)

Não me lamuriei. Mas preciso que as pessoas saibam que isso doeu - exatamente porque algumas destas pessoas, como você ou Jacqueline, importam para mim.

(...)

Tenho um passado hippie que me deixou muitas coisas boas. Estou sempre preocupado com a ética, com a beleza, com a dignidade. Sou educadíssimo, e fui criado de maneira muito católica, com toda aquela culpa de 'maus' pensamentos, 'más' ações, e uma terrível nostalgia da 'bondade' (como a ¨Alice¨do Woody Allen). Gosto de pessoas doces, gosto de situações claras - e por tudo isso, ando cada vez mais só. É como me sinto melhor.

(...)

Amigos não "são para essas coisas", não. Isso é um clichê detestável, significando quase sempre que amigo é saco de pancadas, é uma espécie de privada onde o outro pode jogar dejetos, detritos imundos e dar descarga. Amigos são para dividir o bem e o mal, mas também para deixarem as coisas sempre limpas entre eles - amigos devem ser solidários.

(...)

mon cher, precisamos - eu e você e todo mundo - tomar muito cuidado com esses tempos. São tempos de horror.

(...)

Je t embrasse"

[Caio F.]

terça-feira, 27 de abril de 2010




A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que näo ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?

Ah ! falta quem o lance ao mar, e alado
Tome seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhä, puro e salgado.

Morto corpo da açäo sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.

Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é papa além do mar a ansiada llha.

[Fernando Pessoa]


Sem tempo =~

segunda-feira, 26 de abril de 2010



"Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou (...). Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia (...). Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar".


[Caio Fernando Abreu]

quinta-feira, 22 de abril de 2010







a vida é dose!
de gole
em gole
– com um olho
cheio
de rum
e o outro
sem rumo –,
o mundo é um porre!



[Sérgio de Castro Pinto]

terça-feira, 20 de abril de 2010





Ele era um andarilho. Ele tinha um olhar cheio de sol,
de águas, de árvores, de aves. Ao passar pela aldeia,
ele sempre me pareceu a liberdade em trapos.
O silêncio honrava a sua vida.''
.

[Manoel de Barros]

segunda-feira, 19 de abril de 2010





"Socorro, o inverno está assassinando o jardim! O susto é tanto que até ponto de exclamação usei. E uma coisa em mim diz olha, pedir socorro neste caso é inútil, ninguém pode ajudar."


[Caio F.]





"Aprendi também a não contar muito com os outros: na medida do possível, faço tudo só. Dá mais certo."

[Caio F.]

sexta-feira, 16 de abril de 2010




" - Uns têm uma loucura visível e outros, oculta. Que tipo de loucura você tem?

- Eu não. Eu sou normal! - reagiu impulsivamente o profissional de saúde mental. Enquanto isso, o vendedor de sonhos admitiu:

- Pois a minha é visível.

Em seguida, deu as costas e começou a caminhar com as mãos nos meus ombros. Três passos adiante, olhou para o alto e expressou:

- Deus, livra-me dos "normais"!"



O Vendedor de Sonhos - O Chamado.
Augusto Cury



Faça o jogo da memória
Contando toda sua história todos querem ouvir .
Você tem muito pra dizer,
E importante crer ,
No que você sonhou um dia
Não importa quando.
E não importa mesmo
Quando você descobrir
Que o mundo é somente um
Quebra cabeça .
Quebra cabeça !
Quebra cabeça !

Siga, continue rindo
Seu mundo lindo construindo
Nao se desespere.
Existe um mundo coerente
Com você presente
No riso puro da criança, no beijo do amante .
E na procura incessante
Da verdade sua
E que ninguém lhe roubará .
Não esmoreça,
Não esmoreça não !
Quebra a cabeça !
Quebra cabeça !

[Composição: Antonio Adolfo] Oswaldo Montenegro.

Perfeita!

quinta-feira, 15 de abril de 2010




Quem vem lá
Que horas são
Isso não são horas, que horas são
É você, é o ladrão
Isso não são horas, que horas são
Quem vem lá
Blim blem blão
Isso não são horas, que horas são

A casa está bonita
A dona está demais
A última visita
Quanto tempo faz
Balançam os cabides
Lustres se acenderão
O amor vai pôr os pés
No conjugado coração
Será que o amor se sente em casa
Vai sentar no chão Será que vai deixar cair
A brasa no tapete coração

Quando aumentar a fita
As línguas vão falar
Que a dona tem visita
E nunca vai casar
Se enroscam persianas
Louças se partirão
O amor está tocando
O suburbano coração
Será que o amor não tem programa
Ou ama com paixão
Mulher virando no sofá
Sofá virando cama coração
O amor já vai embora
Ou perde a condução
Será que não repara
A desarrumação
Que tanta cerimônia
Se a dona já não tem
Vergonha do seu coração



[Suburbano coração - Chico Buarque]

Uma música, pra variar...

quarta-feira, 14 de abril de 2010






Ama-me
Meu nome é Poeira
Não sou justa nem santa
E amo como se não existisse!
Perfeito, claro, indômito
No escuro paraíso do meu peito.

Mas como disse aquele ilustre alguém:
''....shadow and sunlight are the same''



[Hilda Hilst]

terça-feira, 13 de abril de 2010





A tarde agoniza
Ao santo acalanto
Da noturna brisa.
E eu, que tambem morro,
Morro sem consolo,
Se não vens, Elisa!

Ai nem te humaniza
O pranto que tanto
Nas faces desliza
Do amante que pede
Suplicantemente
Teu amor, Elisa!

Ri, desdenha, pisa!
Meu canto, no entanto,
Mais te diviniza,
Mulher diferente,
Tão indiferente,
Desumana Elisa!

[Manoel Bandeira]




Eu tão isósceles
Você ângulo
Hipóteses
Sobre o meu tesão

Teses Sínteses
Antíteses
Vê bem onde pises
Pode ser meu coração


Trecho de poema sem título do livro "Caprichos & Relaxos", de Paulo Leminski.

segunda-feira, 12 de abril de 2010






'acendi um cigarro e olhei para a casa em frente, no outro lado da rua. Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta).
(...)para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.'

quinta-feira, 8 de abril de 2010




(...)O peito era maior que o céu aberto.

Parávamos. E sabeis

Que o que contenta mais o peito inquieto

É olhar ao redor como quem vê

E silenciar também como quem ama.



Éramos muitos? Ah, sim

Eram muitos em mim.


[Hilda Hist]




Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa como grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá

de teta

de azul

de berimbau

de doutora em letras?

E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...

Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?

Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?

nave

ave

moinho

e tudo mais serei

para que seja leve

meu passo

em vosso caminho.*

Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista?


[Hilda Hist]



Respirou fundo. Morangos, mangas maduras, monóxido de carbono, pólen, jasmins nas varandas dos subúrbios. O vento jogou seus cabelos ruivos sobre a cara. Sacudiu a cabeça para afastá-los e saiu andando lenta em busca de uma rua sem carros, de uma rua com árvores, uma rua em silêncio onde pudesse caminhar devagar e sozinha até [...]



[Caio F.]



'Solidão é larva'

quarta-feira, 7 de abril de 2010




Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.

[Cecília Meireles]




-Eu queria tanto lhe dizer
Da minha solidão, da minha solidez
Do tempo que esperei por minha vez...

segunda-feira, 5 de abril de 2010




" É hora de fazer tudo o que sempre quis. E é maravilhoso ver que tudo o que sempre quis é simples, belo, acessível, fácil, do bem."



Caio F.