quinta-feira, 29 de julho de 2010




Encontrei com o João Guimarães – o Guima, não o Rosa – em um bar ali nas proximidades dos arcos da Lapa, numa dessas tardes cariocas de calor sufocante. Enquanto disputávamos um lugar no balcão lotado, o Guima desferiu uma gentil cotovelada em minhas costelas:

– Corre que eu achei uma mesa vagando!

E fomos atravessando o salão, entupido de gente, com ele me rebocando pela camisa enquanto entoava o mantra “com licença, perdão, desculpa, ôpa, obrigado, desculpa...” até uma mesinha perto da janela.

Sentados e acomodados, partimos para os comes e bebes. Ele foi de bolinho de bacalhau, eu pedi de carne. Ele riu e eu mudei de idéia.

– Comer carne aqui é de uma valentia...– completou.

O garçom, que acompanhava a conversa sem muito interesse, concordou com a cabeça.

– Mas diga lá, como vão as coisas em São Paulo.

– Muito trabalho...

– O quê? – Interrompeu – Trabalho em São Paulo? Não acredito!

– Esse estereótipo...

– Tá bom, mas diga lá o que te traz ao Rio.

– Preciso escrever sobre o centenário do nascimento do Cartola. Você chegou a conhecê–lo, não?

– Rapaz, não vou dizer que éramos amigos, mas...

– Ai, não começa com cascata que o negócio é serio.

– Tá bom.

– Ele era da Mangueira, não era?

– As pessoas confundem. Principalmente os paulistas, né? – Provocou. – Ele é um dos fundadores da Escola, mas não é de lá. Ele nasceu no Catete, em 1908, depois foi pras Laranjeiras e só foi morar no Morro da Mangueira aos onze anos de idade.

– Agenor de Oliveira, não é ?

– Na verdade Angenor. Erro do cartório que ele só descobriu quando foi casar com a Dona Zica, em 1964.

– E como é que você guarda essas datas, hein?

– Aprendi apontando o jogo do bicho. – respondeu com um sorriso insano. – Ou foi me preparando pro concurso de Miss Niterói. Sabe Deus...

– E por que Cartola?

– Jovem ainda, trabalhando como ajudante de pedreiro, usava um chapéu coco para proteger o cabelo do cimento. Os amigos chamavam aquilo de cartola e o apelido pegou.

– E quando é que ele vai se envolver com a música?

– Ih, desde menino. Aqui no Rio, o samba...

– Pô, será que eu vou ter que lembrar que você é mineiro?

– Mas carioca de adoção! Chefia, mais uma por favor!

– E a música?

– Olha só: ele já era ligado aos ranchos em Laranjeiras. Um deles era o Arrepiados, que ele gostava tanto que levou suas cores, o verde e rosa, pra Mangueira. Mas também tem o verde e grená do fluminense, então... No Morro, ele participou da criação do Bloco dos Arengueiros, em 1925. Esse foi o embrião do Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira.

– Primeira Escola de Samba ou primeira estação da Central do Brasil?

– Aí vai uma imprecisão histórica. Ou justiça poética. Porque a Mangueira não é nenhum nem outro. A primeira escola de samba foi a Deixa Falar, embora a Mangueira tenha sido a primeira a oficializar uma data de fundação, em 28 de abril de 1928. Já quanto à estação de trem, a D. Pedro II é de 1866.

– E o Cartola já era músico profissional nessa época?

– Olha, a carreira dele é, para alguns historiadores, uma metáfora da história do próprio samba, com épocas de sucesso e abandono. Ele teve que parar de estudar cedo. Mal tinha completado o primário quando a mãe morreu e ele teve que trabalhar. Viveu de uma série de biscates, como gráfico, auxiliar de pedreiro... Profissionalização mesmo só pra meados dos anos 60.

– Mas ele já não era famoso antes?

– Ele foi famoso, primeiramente, no Morro, entre os sambistas. Aliás, o primeiro samba-enredo da Mangueira, Chega de demanda, de 1928, é dele. Mas a primeira gravação é de 1929, do Francisco Alves. O Mário Reis passou para ele um samba que tinha comprado do Cartola, Que infeliz sorte, por 300 mil-réis. Aí ele começa a vender outras composições...

– Mas como se sabe que a música era dele?

– Ao contrário de muitos compositores da época, o Cartola vendia os direitos da gravação e não os de autoria. Agora, sucesso mesmo, popular, é em 1933, quando o Francisco Alves lança Divina dama.

– Ele foi contemporâneo de Noel Rosa, não foi?

– Foram amigos, inclusive. Noel passou algum tempo em sua casa e fez a segunda parte do samba Diz qual foi o mal que te fiz, mas não quis assinar, deixando os direitos para o parceiro.

– Mas quando é que ele...

– Ah, você quer saber do nariz?

– Como é que é?

– Nada, nada. Garçom, outra gelada, faz favor!

– Bom mas e o sucesso...

– Ih, mas que mania, rapaz. Vamos com calma. – Disse com a voz já meio amolecida – Não quer saber das mulheres?

– Bom, eu não escrevo para revista de fofoca.

– Ah, paulisssssta! Mas um poeta como esse depende de suas musas, não? Quando a mãe dele morreu, ele tinha uns 15. Abandonou os estudos para trabalhar e começou a conhecer a boemia. Tanto que, lá pelos 17, seu pai o deixa por conta própria. Aí, soltinho, caiu na esbórnia. Bebiba, namoradas... Tanto descuido e acabou doente. A mulher que morava no barraco ao lado do seu acabou por cuidar dele. Deolinda era sete anos mais velha, casada e com uma filha de dois. Mas uma coisa levou à outra e eles acabaram juntos.

– Sem tiro?

– Aparentemente... Ficaram juntos até a morte dela, em 1947. Mas temos que falar dos anos perdidos também..

– Como assim?

– Em 1946, ele teve meningite e sumiu de cena. A Deolinda cuidou dele e morreu no ano seguinte. Ele então se envolveu com uma mulher chamada Donária. E como o Cartola mesmo disse, largou tudo por ela, a Mangueira, a música, e estava morando no Caju. Aí, em 1952, ele e a Dona Zica se reencontraram. Ele estava na pior, bebendo muito, o nariz...

– Que mania com nariz, rapaz!

– Mas nesse caso faz sentido. O nariz dele parecia uma couve flor por causa de uma doença chamada rosácea.

– Nas fotos ele aparece normal, mas com uma mancha escura.

– É que ele ganhou uma cirurgia do Pitanguy ali pelo começo dos anos 60.

– Mas a Zica começou a namorar com ele em 52...

– Prova de que era amor mesmo. Garçom, mais uma aqui!

– E quando terminam esses anos perdidos?

– Não há uma data precisa, mesmo porque quando ele se junta com a Zica começa a se recuperar, bebendo menos... Voltando pra Mangueira, voltando pra música. Aí, em 1956, ele foi reconhecido pelo Sérgio Porto enquanto lava carros. O Sérgio o ajudou a arrumar um emprego e ele foi voltando, aos poucos, a ficar em evidência.

– Esse Sérgio é o Stanislaw Ponte Preta?

– Isso. Mas tinham outros que não deixavam seu nome ficar esquecido, como o historiador Lúcio Rangel, que o chamava de Divino...

– Como o Ademir da Guia? – Interrompi.

– ...E muitos outros. – Ignorou – Aí, em 1963, ele inaugura o Zicartola, que para muitos é um marco na história do samba, porque contava com apresentações dos melhores sambistas do morro que eram assistidos por uma nova geração. Aliás, Cartola dizia que tinha pago o primeiro cachê do Paulinho da Viola...

– Foi o auge?

– Só o começo. A coisa esquenta mesmo nos anos 70. Muito tardiamente, em 1974, ele lança um disco individual, com uma série de clássicos. O trabalho recebeu prêmios, rendeu vários shows e ele conheceu uma popularidade inédita na carreira. Gravou ainda outros três discos em estúdio.

– Tem aquelas bem manjadas, como a do moinho.

– Rapaz, outro dia eu ouvi na internet, na página da Beth Carvalho, uma gravação do Cartola mostrando As rosas não falam pra ela. Depois ele toca O mundo é um moinho, mas diz que não é pra ela, que ela ia “queimar a música” e tal. Mas ela gravou a primeira em 1976 e foi um super sucesso. Aí a outra ela gravou no ano seguinte e, me parece, funcionou muito bem. Aliás, garçom, mais uma faz favor. E traz um conhaque também.

– Você não tem que voltar pro trabalho?

– O Cartola gostava de beber cerveja com conhaque. Eu acho uma boa escolha. E olha só: ele nasceu no dia que morreu o Machado de Assis... Os dois mulatos, imortais... Mas falando nisso, tem o Sargentelli e as mulatas... É isso, vamos ver as mulatas do Sargentelli!

– Acho melhor irmos...

– Quando o primeiro disco saiu, ele já tinha 66 anos. Morreu em 1980, de câncer. O primeiro disco do Balão Mágico é de 1982...

– Tá ficando tarde. Vamos indo. Garçom?

– Mais uma!

– A conta!

O Guima me olhou contrariado, meio com raiva, meio com sono. E logo já não lembrava de nada. Pagamos a conta e foi minha vez de rebocá-lo até o ponto de ônibus que, por sorte, passou logo.

– O Nélson Sargento disse que o Cartola não existiu, que foi um sonho que tivemos. – Disse quando finalmente sentamos e começamos a chacoalhar rumo a Vista Alegre.

– Você não comeu o bolinho de carne, não é?

– Não. – Respondi.

– Sorte... – Emendou fechando os olhos.

[por Aldo Gama, da Redação da Agência Brasil de Fato]



Baía morena da nossa terra
vem beijar os pézinhos agrestes
das nossas praias sedentas,
e canta, baía minha
os ventres inchados
da minha infância,
sonhos meus, ardentes
da minha gente pequena
lançada na areia
da Praia Gamboa morena
gemendo na areia
da Praia Gamboa.


Canta, criança minha
teu sonho gritante
na areia distante
da praia morena.

Teu teto de andala
à berma da praia.
Teu ninho deserto
em dias de feira.
Mamã tua, menino
na luta da vida
gamã pixi à cabeça
na faina do dia
maninho pequeno, no dorso ambulante
e tu, sonho meu, na areia morena
camisa rasgada,
no lote da vida,
na longa espera, duma perna inchada
Mamã caminhando p'ra venda do peixe
e tu, na canoa das águas marinhas ...


— Ai peixe à tardinha
na minha baía...
Mamã minha serena
na venda do peixe.

[Arnaldo Antunes]



'Jurei pro amor um dia te encontrar..'


"Posso não saber nada do coração das gentes, mas tenho a impressão, de que, de tudo, o pior é quando entra a segunda parte da letra de “Atrás da porta”, ali no quando “dei pra maldizer o nosso lar pra sujar teu nome, te humilhar”. Chico Buarque é ótimo pra essas coisas. Billie Holiday é ótima pra essas coisas. E Drummond quando ensina que “o amor, caro colega, esse não consola nunca de núncaras”. Aí você saca que toda música, toda letra, todo poema, todo filme, toda peça, todo papo, todo romance, tudo e todos o tempo todo, antes, agora e depois, falam disso. Que o que você sente é único & indivisível e é exatamente igual à dor coletiva, da Rocinha a Biarritz."


[Caio F.]

quarta-feira, 28 de julho de 2010




A gente finge que arruma o guarda-roupa, arruma o quarto, arruma a bagunça. Tira aquele tanto de coisa que não serve, porque ocupar espaço com coisas velhas não dá. As coisas novas querem entrar, tanta coisa bonita nas lojas por aí. Mas a gente nunca tira tudo. Sempre as esconde aqui, esconde ali, finge para si mesmo que ainda serve. A gente sabe. Que tá curta, pequeno, apertado. É que a gente queria tanto. Tanto.
Acredito que arrumar a bagunça da vida é como arrumar a bagunça do quarto. Tirar tudo, rever roupas e sapatos, experimentar e ver o que ainda serve, jogar fora algumas coisas, outras separar para doação. Isso pode servir melhor para outra pessoa. Hora de deixar ir. Alguém precisa mais do que você. Se livrar. Deixar pra trás. Algumas coisas não servem mais. Você sabe. Chega. Porque guardar roupa velha dentro da gaveta é como ocupar o coração com alguém que não lhe serve. Perca de espaço, tempo, paciência e sentimento. Tem tanta gente interessante por aí querendo entrar. Deixa. Deixa entrar: na vida, no coração, na cabeça.

Caio F.



Queria dizer pra vocês que eu enchi quatro sacos de coisas velhas e mortas e joguei no lixo. Queria dizer pra vocês todos que, pela primeira vez na vida, por pura preguiça de andar pra trás ou aceitar um amor de quem tem medo de esperar pelo amor, eu disse basta. Queria dizer que eu não acho mais que fulana passou do peso, que fulana passou da conta de imbecilidades e que fulano se esqueceu de ser real. Eu apenas queria dizer que eu tô bem em forma, sou bem bacana e, graças a Deus, tenho plena certeza do que vim fazer nesse planeta. Queria aproveitar para fazer um elogio a mim, sim, chega de me detonar. Queria te dizer, sua escrotinha que dorme comigo todas as noites, que nenhuma das vezes em que eu cheguei perto da janela e fiquei na ponta dos pés, eu estava sendo sincera. Queria te dizer que, apesar de você se sentir imensamente sozinha de vez em quando, eu sou milhares, e todas essas milhares te acham a melhor mulher do mundo. Queria bater palmas pra todas as vezes em que você sacrificou o que você mais amava em nome de seguir a diante com o teu fígado e todas as vezes em que você ficou pequenininha para que ficar grande fosse ainda maior. Obrigada por nunca ter fugido de mim, obrigada por ter me encontrado, obrigada por estar aqui. Confie que agora, de dentro de mim, conquistar o mundo vai ser ridículo. Ah, e tem mais: sua bunda até que é bonitinha, mas o resto é um arraso. Hoje eu acordei nervosa e irritada com a minha viagem, aí parei e pensei: chega de se boicotar minha filha, tá na hora de você ser muito feliz.


[Caio F.]

terça-feira, 27 de julho de 2010




"Pois a hora escura, talvez a mais escura, em pleno dia, precedeu essa coisa que não quero sequer tentar definir. Em pleno dia era noite, e essa coisa que não quero ainda tentar definir é uma luz tranquila dentro de mim, e a ela chamariam de alegria, alegria mansa. Estou um pouco desnorteada como se um coração me tivesse sido tirado, e em lugar dele estivesse agora a súbita ausência, uma ausência quase palpável do que era antes um órgão banhado da escuridão diurna da dor. Não estou sentindo nada. Mas é o contrário de um torpor. É um modo mais leve e mais silencioso de existir.
Mas estou também inquieta. Eu estava organizada para me consolar da angústia e da dor. Mas como é que me consolo dessa simples e tranquila alegria? É que não estou habituada a não precisar de consolo. A palavra consolo aconteceu sem eu sentir, e eu não notei, e quando fui procurá-la, ela já se havia transformado em carne e espírito, já não existia mais como pensamento.
Vou então à janela, está chovendo muito. Por hábito estou procurando na chuva o que em outro momento me serviria de consolo. Mas não tenho dor a consolar.
Ah, eu sei. Estou agora procurando na chuva uma alegria tão grande que se torne aguda, e que me ponha em contato com uma agudez que se pareça com a agudez da dor. Mas é inútil a procura. Estou à janela e só acontece isso: vejo com os olhos benéficos a chuva, e a chuva me vê de acordo comigo. Estamos ocupadas ambas em fluir. Quanto durará esse meu estado? Percebo que, com esta pergunta, estou apalpando meu pulso para sentir onde estará o latejar dolorido de antes. E vejo que não há o latejar da dor. Apenas isso: chove e estou vendo a chuva. Que simplicidade. Nunca pensei que o mundo e eu chegássemos a esse ponto de trigo. A chuva cai não porque está precisando de mim, e eu olho a chuva não porque preciso dela. Mas nós estamos tão juntas como a água da chuva está ligada à chuva. E não estou agradecendo nada. Não tivesse eu, logo depois de nascer, tomado involuntária e forçadamente o caminho que tomei - e teria sido sempre o que realmente estou sendo: uma camponesa que está num campo onde chove. Nem sequer agradecendo a Deus ou à natureza. A chuva também não agradece nada. Não sou uma coisa que agradece ter se transformado em outra. Sou uma mulher, sou uma pessoa, sou uma atenção, sou um corpo olhando pela janela. Assim como a chuva não é grata por não ser uma pedra. Ela é uma chuva.Talvez seja isso que se poderia chamar de estar vivo. Não mais que isto, mas isto: vivo. E apenas vivo é uma alegria mansa."

[trecho de A Alegria Mansa, de Clarice Lispector]

quarta-feira, 21 de julho de 2010



Alguns estão dormindo de tarde,
outros subiram para Petrópolis como meninos tristes.
Vou bater à porta do meu amigo,
que tem uma pequena mulher que sorri muito e fala
pouco, como uma japonesa.
Chego meio prosa, sombras no rosto.
Não tenho muitas palavras como pensei.
"Coisa ínfima, quero ficar perto de ti".
Te levo para a avenida Atlântica beber de tarde
e digo: está lindo, mas não sei ser engraçada.
" A crueldade é seu diadema..."
O meu embaraço te deseja, quem não vê?
Consolatriz cheia das vontades.
Caixa de areia com estrelas de papel.
Balanço, muito devagar.
Olhos desencontrados: e se eu disser, te adoro,
e te raptar não sei como dessa aflição de março,
bem que aproveitando maus bocados para sair do
esconderijo num relance?
Conheces a cabra-cega dos corações miseráveis?
Beware: esta compaixão é
paixão.

[Ana Cristina Cesar]



"O mais engraçado é que tudo isso era absolutamente insuspeitado, me espanto. Mas de leve. Estávamos cada um pro seu lado, em andares diferentes, e naturalmente vamos cada um pro seu lado, esse é um pressuposto de leveza (...)".


[Ana Cristina Cesar]

terça-feira, 20 de julho de 2010




"Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu deus como você me doía de vez em quando, eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada, um tempo enorme só olhando você sem dizer nada, só olhando e pensando, meu deus mas como você me dói de vez em quando."


Caio F.


Sem tempo =/

segunda-feira, 19 de julho de 2010




(...) Mordo o último biscoito e respiro estimulada. Aí está onde eu queria chegar: milhares de coisas estão subentendidas. Nas entrelinhas. O lado omisso. Quero a verdade, M.N., meu amado, escuta, entenda isso, quero a verdade. E você sugere reticências. Omissões.


[Lygia Fagundes Telles]



- Você está triste, Coelha? Fica contente, amor, fica contente. Eu queria tanto que as pessoas todas fossem mais contentes, é tão bom ficar contente. A gente vê na rua todo mundo tão triste, por que as pessoas estão tristes? Ahn? Queria tanto sair por aí alegrando as pessoas, olha, não fique triste, segura minha mão e vem comigo que te mostro o jardim da alegria com Deus lá dentro, vem...

[Lygia Fagundes Telles]



"Não separe com tanta precisão os heróis dos vilões, cada qual de um lado, tudo muito bonitinho como nas experiências de química. Não há gente completamente boa nem gente completamente má, está tudo misturado e a separação é impossível. O mal está no próprio gênero humano, ninguém presta. Às vezes a gente melhora. Mas passa ... E que interessa o castigo ou o prêmio? ... Tudo muda tanto que a pessoa que pecou na véspera já não é a mesma a ser punida no dia seguinte."


[Lygia Fagundes Telles]

sexta-feira, 16 de julho de 2010




"Sinto ciúmes desse cigarro que você fuma tão distraidamente."



[Ana Cristina Cesar]

quinta-feira, 15 de julho de 2010




E morta de cansaço e amor, sem esperanças por aquele homem que não a via, nem veria jamais como realmente era, nem a tocaria nunca.


Caio F.

quarta-feira, 14 de julho de 2010




“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”


[Clarice Lispector]


E eis que depois de uma tarde de "quem sou eu" e de acordar à uma hora da madrugada ainda em desespero - eis que às três horas da madrugada acordei e me encontrei. Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. Simplesmente eu sou eu. e você é você. É vasto, vai durar.
O que te escrevo é um "isto". Não vai parar: continua.
Olha para mim e me ama. Não: tu olhas para ti e te amas. É o que está certo.
O que te escrevo continua e estou enfeitiçada."


[Clarice Lispector]

terça-feira, 13 de julho de 2010




Ninguém acredita, mas eu sou uma pessoa muito sozinha. Não pense que isso é ruim não, porque ruim é não sentir nada, a solidão faz parte.


[Caio F. Abreu]

segunda-feira, 12 de julho de 2010




[..]


Infelizmente, doce Joana, ainda não podes voltar ao
mundo apenas com o teu vestidinho vermelho de
camponesa, com a rosa na mão e o sorriso no rosto.

Terás de usar de novo a tua rija armadura forjada em Tours, a tua espada e o teu grito de guerra.E nem assim estarás protegida, porque os homens de hoje, minha iluminada, são senhores de artimanhas sobrenaturais.

Agora, minha santa, para que não fiques triste com as notícias que te dei do meu século, asseguro-te que, nas estradas de Lorena, ainda trotam amáveis descendentes do burrinho manso e peludo que te levou a Sermaize naquele dia de sol.







[Carta feita por Erico Verissimo no final de seu livro - A vida de Joana D'arc - Obras de Erico Verissimo.]

sábado, 10 de julho de 2010





O desrespeito à natureza tem afetado a sobrevivência de vários seres e entre os mais ameaçados está a fêmea da espécie humana.
Tenho apenas um exemplar em casa,que mantenho com muito zelo e dedicação, mas na verdade acredito que é ela quem me mantém. Portanto, por uma questão de auto-sobrevivência, lanço a campanha 'Salvem as Mulheres!'
Tomem aqui os meus poucos conhecimentos em fisiologia da feminilidade a fim de que preservemos os raros e preciosos exemplares que ainda restam:

1. Habitat
Mulher não pode ser mantida em cativeiro. Se for engaiolada, fugirá ou morrerá por dentro. Não há corrente que as prenda e as que se submetem à jaula perdem o seu DNA. Você jamais terá a posse de uma mulher, o que vai prendê-la a você é uma linha frágil que precisa ser reforçada diariamente.

2. Alimentação correta
Ninguém vive de vento. Mulher vive de carinho. Dê-lhe em abundância. É coisa de homem, sim, e se ela não receber de você vai pegar de outro. Beijos matinais e um 'eu te amo’ no café da manhã as mantém viçosas e perfumadas durante todo o dia. Um abraço diário é como a água para as samambaias. Não a deixe desidratar. Pelo menos uma vez por mês é necessário, senão obrigatório, servir um prato especial.

3. Flores
Também fazem parte de seu cardápio – mulher que não recebe flores murcha rapidamente e adquire traços masculinos como rispidez e brutalidade.

4. Respeite a natureza
Você não suporta TPM? Case-se com um homem. Mulheres menstruam, choram por nada, gostam de falar do próprio dia, discutir a relação? Se quiser viver com uma mulher, prepare-se para isso.

5. Não tolha a sua vaidade
É da mulher hidratar as mechas, pintar as unhas, passar batom, gastar o dia inteiro no salão de beleza, colecionar brincos, comprar muitos sapatos, ficar horas escolhendo roupas no shopping. Entenda tudo isso e apoie.

6. Cérebro feminino não é um mito
Por insegurança, a maioria dos homens prefere não acreditar na existência do cérebro feminino. Por isso, procuram aquelas que fingem não possuí-lo (e algumas realmente o aposentaram!). Então, aguente mais essa: mulher sem cérebro não é mulher, mas um mero objeto de decoração. Se você se cansou de colecionar bibelôs, tente se relacionar com uma mulher. Algumas vão lhe mostrar que têm mais massa cinzenta do que você. Não fuja dessas, aprenda com elas e cresça. E não se preocupe, ao contrário do que ocorre com os homens, a inteligência não funciona como repelente para as mulheres.

Não faça sombra sobre ela
Se você quiser ser um grande homem tenha uma mulher ao seu lado, nunca atrás. Assim, quando ela brilhar, você vai pegar um bronzeado. Porém, se ela estiver atrás, você vai levar um pé-na-bunda.

Aceite: mulheres também têm luz própria e não dependem de nós para brilhar. O homem sábio alimenta os potenciais da parceira e os utiliza para motivar os próprios. Ele sabe que, preservando e cultivando a mulher, ele estará salvando a si mesmo.
E meu amigo, se você acha que mulher é caro demais, vire GAY.

Só tem mulher, quem pode!

[Luiz Fernando Veríssimo]

sexta-feira, 9 de julho de 2010



"Sem verdade, sem dúvida, nem dono. Boa é a vida, mas melhor é o vinho. O amor é bom, mas é melhor o sono."

[Fernando Pessoa]

quinta-feira, 8 de julho de 2010



Estou tonto,
Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,
Ou de ambas as coisas.
O que sei é que estou tonto
E não sei bem se me devo levantar da cadeira
Ou como me levantar dela.
Fiquemos nisto: estou tonto.

Afinal
Que vida fiz eu da vida?
Nada.
Tudo interstícios,
Tudo aproximações,
Tudo função do irregular e do absurdo,
Tudo nada.
É por isso que estou tonto ...

Agora
Todas as manhãs me levanto
Tonto ...

Sim, verdadeiramente tonto...
Sem saber em mim e meu nome,
Sem saber onde estou,
Sem saber o que fui,
Sem saber nada.

Mas se isto é assim, é assim.
Deixo-me estar na cadeira,
Estou tonto.
Bem, estou tonto.
Fico sentado
E tonto,
Sim, tonto,
Tonto...
Tonto.

[Álvaro de Campos]



'Só quem tem o poder de te fazer sentir viva, pode fazer você se sentir morta. Só quem arrepia cada centímetro do seu corpo e faz você sentir o sangue bombear num ritmo charmoso, é capaz de estragar o mundo quando parte. Só quem tem o poder de tornar o mundo leve e fazê-la flutuar, também pode afundar sua noite e fazer com que seu corpo se arraste pelos restos que sobraram da festa. Aonde está a força de negar um desejo se enquanto ele não é saciado continua existindo? Desejos nascem, ocupam lugares interessantes do seu corpo, e não morrem antes de um formigamento exausto de prazer, uma manhã suja de arrependimentos, hálitos estragados de amargura e clicks que a vida nos dá, também chamados de momentos de verdade, que em muito se parecem com toques de mágica para você sair do estado encantado e falso da imaginação. O tempo não se encarrega de matar desejos, apenas de substituir os personagens. Você pensa que é forte sendo moralista, respirando fundo, contando até mil, sumindo da festa, rezando, desviando sua atenção, mas ele está lá, num bar com amigos, te olhando de longe. E ele continua lá mesmo depois que o táxi o levou, meio embreagado, para casa.


Ele está no vazio que deixou, na dúvida de como poderia ter sido, na esperança do próximo encontro, na consciência leve pela negação e pesada pela cobrança de um tesão ainda latente. Pecados existem, não os julgados por Deus, não as pecuinhas julgadas pelos humanos. Pecados existem dentro dos corações traidores. Mas se antes meu coração ardeu e se assustou de pecados, agora ele chora de saudade, de covardia e de aceitação. Ele está puro e nem por isso tranqüilo. Esse é o maior problema dos desejos, eles não aceitam não como resposta. Você só coloca um ponto final nele se for até o fim. E o fim pode ser um simples enjôo ou, na pior das hipóteses, a morte. Mas você viveu. Para matar um desejo é preciso viver, nem que depois você morra junto com ele. Indo embora para casa, segurei o peito, que parecia solto, e abafei uma lágrima. Como eu queria agora estar com ele. Por aquelas três horas pagas de delícias e mais meia de arrependimento na hora de se vestir. Por aqueles segundos de esquecimento, mais meses de lembrança. Por algumas palavras idiotas, mais muitas contidas para não parecer idiota. O desejo me acompanhou até em casa. Muito , muito mais forte que minha nobreza em ter dito não. Ele está lá. No seu coração, na sua mente, no cheiro que você carrega junto com seu passado. Ele está em cada batimento cardíaco contraído da sua vagina, em cada torção contraída do seu estômado, em cada momento descontraído de seus hormônios. Você está aqui. Em cada linha que eu escrevo tentando ser boa redatora, em cada momento correto que eu me agarro para não deixar você errar, em cada provocação estratégica para você nunca desistir de insistir em errar. Você está aonde eu quero chegar, em tudo que eu quero negar, muito presente. Não quero uma só uma escapadinha, não quero uma vida ao seu lado.


Não quero nunca mais te ver. Queria ter dez minutos com você, o bastante para não mudar minha vida em nada. Quero outra vida. Não estou nem aí pra você. Só penso em você. Você é meu amigo, você é um conhecido, você foi a melhor noite da minha vida. Mais do que qualquer certeza, confusão é paixão. Quis demais que você fosse embora, quis demais que você ficasse pra sempre, quis não pensar, me agarrei numa lógica fria que berrou no meu ouvido que toda ação tem sua reação. Toda traidora tem seu dia de enganada. Toda vontade negada tem seu dia de câncer. Todo silêncio tem seu dia de grito desesperado. Entenda cada som, de cada letra, de cada palavra, de cada frase, de cada sentença, de cada idéia carregada de desejo, como um grito de cada parte do meu corpo que ficou lacônica quando sua presença física abandonou a festa. O desejo era tanto, que travei. Tive medo que você tirasse meus grampos e minha maquiagem, a roupa que vesti para seduzí-lo. Tive medo da hora de ir embora, a maior solidão de uma mulher é não poder dormir nos abraços do seu amado, pois ele é sua apenas por três horas. Tive medo da sua pressa, que sempre me ofende tanto. Tive medo da sua fidelidade. Você sempre me comeu muito bem, mas nunca me emprestou sem ombro, seu colo, sua mão, seu olhar carinhoso, seu suspiro, seu sono, sua fragilidade. Tive medo de ser só desejo, porque para mim sempre foi mais. Prefiro ser perseguida pelo meu desejo, que não tem dia para acabar, do que ser abandonada mais uma vez pelo seu, que dura no máximo três horas.'


Tati Bernardi


:O



Eu me sinto às vezes tão frágil, queria me debruçar em alguém, em alguma coisa. ...alguma segurança. Invento estorinhas para mim mesmo, o tempo todo, me conformo, me dou força. Mas a sensação de estar sozinho não me larga...algumas paranóias, mas nada de grave. O que incomoda é esta fragilidade... essa aceitação,esse contentar-se com quase nada. Estou todo sensível, as coisas me comovem...

[Caio F. Abreu]

quarta-feira, 7 de julho de 2010




o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui com um olho aberto,
outro acordado no lado de lá
onde eu caí pro lado de cá
não tem acesso mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some a janela some
na parede a palavra de água se dissolve na palavra sede,
a boca cede antes de falar,
e não se ouve já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada vou ficar ali nessa cadeira uma orelha alerta, outra ligada o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar
agora fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora



[Arnaldo Antunes]

terça-feira, 6 de julho de 2010




...nenhuma das alternativas

me seduz -

nem a voz do deserto

nem a mão que conduz

nem o sonho desperto

nem o lustro da luz

nenhuma das alternativas

me convence -

nem a bola que rola

nem o time que vence

nem a chuva que chora

nem a água que benze

nenhuma das alternativas

me desperta -

nem a borda que alarga

nem a corda que aperta

nem a boca que amarga

ou o açúcar que empedra...

[Arnaldo Antunes]

segunda-feira, 5 de julho de 2010





Sim, passava aqui frequentemente há vinte anos...
Nada está mudado — ou, pelo menos, não dou por isto —
Nesta localidade da cidade ...

Há vinte anos!...
O que eu era então! Ora, era outro...
Há vinte anos, e as casas não sabem de nada...

Vinte anos inúteis (e sei lá se o foram!
Sei eu o que é útil ou inútil?)...
Vinte anos perdidos (mas o que seria ganhá-los?)

Tento reconstruir na minha imaginação
Quem eu era e como era quando por aqui passava
Há vinte anos...
Não me lembro, não me posso lembrar.

O outro que aqui passava, então,
Se existisse hoje, talvez se lembrasse...
Há tanta personagem de romance que conheço melhor por dentro
De que esse eu-mesmo que há vinte anos passava por aqui!

Sim, o mistério do tempo.
Sim, o não se saber nada,
Sim, o termos todos nascido a bordo
Sim, sim, tudo isso, ou outra forma de o dizer...

Daquela janela do segundo andar, ainda idêntica a si mesma,
Debruçava-se então uma rapariga mais velha que eu, mais
lembradamente de azul.

Hoje, se calhar, está o quê?
Podemos imaginar tudo do que nada sabemos.
Estou parado físisca e moralmente: não quero imaginar nada...

Houve um dia em que subi esta rua pensando alegremente no futuro,
Pois Deus dá licença que o que não existe seja fortemente iluminado,
Hoje, descendo esta rua, nem no passado penso alegremente.
Quando muito, nem penso...
Tenho a impressão que as duas figuras se cruzaram na rua, nem então nem agora,
Mas aqui mesmo, sem tempo a perturbar o cruzamento.

Olhamos indiferentemente um para o outro.
E eu o antigo lá subi a rua imaginando um futuro girassol,
E eu o moderno lá desci a rua não imaginando nada.

Talvez isso realmente se desse...
Verdadeiramente se desse...
Sim, carnalmente se desse...

Sim, talvez...


[Álvaro de Campos]


Boa noite.




Chega um momento
em que somos aves na noite,
pura plumagem, dormindo de pé,
com a cabeça encolhida.
O que tanto zelamos
na fileira dos dias,
o que tanto brigamos
para guardar, de repente
não presta mais: jornais, retratos,
poemas, posteridade.
Minha bagagem
é a roupa do corpo.


[Fabricio Carpinejar]



Eu fui uma mulher marítima,
as rugas chegaram antes.

Eu fui uma mulher marítima,
paisagem e pêssego,
uma faísca
entre a corda do barco
e a rocha.

Eu fui o que não sou.
Depois que inventaram o inconsciente,
a verdade fica sempre para depois.

[Fabricio Carpinejar]


Seu formidavel vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.


[Fernando Pessoa]

domingo, 4 de julho de 2010





Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.


[Álvaro de Campos]



Venho dos lados de Beja.
Vou para o meio de Lisboa.
Não trago nada e não acharei nada.
Tenho o cansaço antecipado do que não acharei,
E a saudade que sinto não é nem no passado nem no futuro.
Deixo escrita neste livro a imagem do meu desígnio morto:
Fui, como ervas, e não me arrancaram.


[Álvaro de Campos - Escrito Num Livro Abandonado em Viagem]

quinta-feira, 1 de julho de 2010





Inverno

É tudo o que sinto

Viver

É sucinto

[Paulo Leminski]



"Quando já se está quase sem alma e se tem consciência disso, é porque ainda existe."



[Charles Bukowski]