
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Mario Quintana
"... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, espararei quanto tempo for preciso."
Clarice Lisperctor.
Aqui eu te amo.Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.Fosforece a lua sobre as águas errantes.Andam dias iguais a perseguir-se.
Descinge-se a névoa em dançantes figuras. Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.As vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.
Ou a cruz negra de um barco.Só.As vezes amanheço, e minha alma está úmida.Soa, ressoa o mar distante.Isto é um porto.Aqui eu te amo.
Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,que correm pelo mar rumo a onde não chegam.
Já me creio esquecido como estas velha âncoras.São mais tristes os portos ao atracar da tarde.Cansa-se minha vida inutilmente faminta..Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.
Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.Mas a noite enche e começa a cantar-me.A lua faz girar sua arruela de sonho.
Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.E como eu te amo, os pinheiros no vento, querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.
Pablo Neruda