domingo, 8 de janeiro de 2012




Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.


Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?


Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?


Ninguém responde, a vida é pétrea.

Drummond.

6 comentários:

  1. Não somos inocentes.

    Que texto do Drummond. Tudo é uma verdade colocada meticulosamente. Poesia de alto nível, de realeza.

    Esse espaço continua incrível.

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  2. Os "dinossauros" estão de volta. Na verdade, nunca foram extintos, somente sufocados pelo mar de mediocridade da cultura contemporanea. Vamos continuar cultuando nossos mestres, pois eles continuam atuais em sua poesia e verdades.
    Paulo Bettanin.

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  3. A mais pura verdade, viu?


    Beijos e obrigada pela visita.

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