quarta-feira, 8 de dezembro de 2010





Mas quase nem doeu, meses seguintes. Pois veio a primavera e trouxe tantos roxos e amarelos para a copa dos jacarandás tantos reflexos azuis e prata e ouro na superfície das águas do rio, tanto movimento nas caras das pessoas com suas deliciosas histórias de vivas desimportâncias, e formas pelas nuvens — um dia, um anjo —, nas sombras do jardim pela tardinha — outro dia, duas borboletas (...) havia ainda as doçuras alheias (...) e golpes de fé irracional em algum milagre de science fiction, por vezes avisos mágicos nas minúsculas plumas coloridas caídas pelos cantos da casa. E principalmente, manhãs. Que já não eram de agosto, mas de setembro e depois outubro e assim por diante até o janeiro do novo ano que, em agosto, nem se atrevera a supor.
Estou forte, descobriu certo dia (...) Porque não morri, porque é verão e eu quero ver, rever, transver, milver tudo que não vi (...)'


[Caio Fernando Abreu]

6 comentários:

  1. Coisa mais linda e preciosa: as palavras desnudas do Caio!

    Beijos, flor!

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  2. Caio tem um poder de despir uma flor e ainda continuar intacta!

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  3. Estou forte, descobriu certo dia (...) Porque não morri, porque é verão e eu quero ver, rever, transver, milver tudo que não vi (...)'

    ADOREI!

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  4. Outro dia uma borbolera era um anjo, com asas flexíveis, doce... Aquela menina era uma flor...

    Um ótimo texto!
    Parabéns!

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  5. Respirei cada letra...belíssimo!

    Beijos pra Ti

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