terça-feira, 8 de fevereiro de 2011





sigo esvaziando garrafas à espera dos passos. posso senti-la no ar, posso senti-la na ponta dos dedos, posso ver calçadas construídas para seus pés caminharem, posso ver travesseiros para sua cabeça, posso sentir a expectativa da minha risada, posso vê-la acariciando um gato, posso vê-la dormir, posso ver seus chinelos no chão. pequenas gotas de você pingando na poeira. sei que alguma noite em algum quarto logo meus dedos abrirão caminho através de cabelos limpos e macios. quando me penso morto penso em fazer amor com você quando não estou por perto. é tudo tão confortável — esse fazer amor, esse dormir juntos, a suave delicadeza… outra cama outra mulher mais cortinas, outro banheiro outra cozinha outros olhos outro cabelo outros pés e dedos. essas orelhas esses braços esses cotovelos esses olhos olhando, o afeto e a carência me sustentaram. sou um bom cozinheiro, um bom ouvinte, mas nunca aprendi a dançar. me sinto bem melhor agora. dediquei-me ao sapateado e as palavras difíceis que sempre tive medo de dizer podem agora ser ditas: eu te amo como um homem ama uma mulher que jamais tocou, para quem apenas escreveu, de quem manteve algumas fotografias. eu poderia ter te amado mais se eu tivesse sentado numa pequena sala enrolando um cigarro e ouvindo você mijar no banheiro. mando a cerveja goela abaixo, peço uma bebida forte rápido para adquirir a garra e o amor de continuar. eu sairei e esperarei por você.

[Charles Bukowski]

2 comentários:

  1. Oi Flávia, sou sua seguidora de numero 500!! Acho que mereço um prêmio, não acha?! rsrsrs... Que tal me oferecer conhecer João Pessoa, hummmm.... seria um prêmio e tanto hein!!! rsrsrs... bjos,

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  2. "(...)peço uma bebida forte rápido para adquirir a garra e o amor de continuar. eu sairei e esperarei por você."

    Ahaam!
    Beijos meus

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