quinta-feira, 13 de maio de 2010





Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

[Carlos drummond]

5 comentários:

  1. "Mundo mundo vasto mundo,
    mais vasto é meu coração."
    Que lindo, me encanto com Carlos Drummond!

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  2. [Quanto mais conheço, pelo lado da minha infinita ignorância, este Carlos, diria que não é Drummond; é Domundo de Andrade!]

    um imenso abraço, Flávia

    Leonardo B.

    * amanhã se conseguir, vou colocar no Impressões, o "Procura de Poesia"... é segredo em vias de desvendado!

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  3. Esse poema é lindissímo.

    Adorei teu espaço,

    T.

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  4. Drummond sempre merece um bom e belo espaço :)

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  5. Não há como não se apaixonar pelas palavras de Drummond...;)

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