sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Doçura
Nasci dura, heróica, solitária e em pé.
E encontrei meu contraponto na paisagem
sem pitoresco e sem beleza.
A feiúra é o meu estandarte de guerra.
Eu amo o feio com um amor de igual para igual.
E desafio a morte.
Eu - eu sou a minha própria morte.
E ninguém vai mais longe.
O que há de bárbaro em mim
procura o bárbaro e cruel fora de mim.
Vejo em claros e escuros os rostos das pessoas que vacilam às chamas da fogueira.
Sou uma árvore que arde com duro prazer.
Só uma doçura me possui:
a conivência com o mundo.
Eu amo a minha cruz,
a que doloridamente carrego.
É o mínimo que posso fazer de minha vida:
aceitar comiseravelmente o sacrifício da noite.
Por – Clarice Lispector
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Sempre gostei da Clarice, tem um texto dela editado no meu blog...vê lá depois...se quiser...
ResponderExcluirÉ, o feio de forma igual podemos dizer que é belo como nós...é meio estranho, mas é assim que pessoas como ela pensa...tmb penso assim, e aceito a verocidade como nasci...
Nossa, ela é sempre tao perfeita, tão intensa! Adorei Flávia! Beijo.
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