terça-feira, 8 de dezembro de 2009



A porta da verdade estava aberta,

mas só deixava passar

meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,

porque a meia pessoa que entrava

só trazia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metade

voltava igualmente com meio perfil.

E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.

Chegaram ao lugar luminoso

onde a verdade esplendia seus fogos.

Era dividida em metades

diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.

Nenhuma das duas era totalmente bela.

E carecia optar. Cada um optou conforme

seu capricho, sua ilusão, sua miopia.




Carlos Drummond de Andrade

2 comentários:

  1. precisamos do outro sempre para sermos o que somos, mesmo seguindo e escolhendo caminhos individualmente, mas o outro sempre será muito importante para a nossa existência, somos completos quando compartilhamos nossa existência, assim como vc faz Flávia,

    Beijos
    do Ge.

    ResponderExcluir
  2. Já leu "Boca de Luar" do C.D.A??
    Recomendo! :)

    Um beijo.

    ResponderExcluir