sexta-feira, 30 de outubro de 2009



Amor.
Bolinhas de sabão. O som de copos com água. O som das gotas no chão. Um sorriso tímido. A música por trás dos ruídos. Um coração encostado no outro. Um ou dois para sempres. Um avião nas mãos de um menino. Um barquinho de papel. Uma pipa atravessando as nuvens. Uma sementeira de tulipas. Um mingauzinho de aveia. Um par de meias listradas. Dois ou três cata-ventos. Uma palavra inventada.




Rita Apoena



sobre o amor
Quem não compreende o silêncio
ainda não está pronto
para ser flor.



Rita Apoena

quarta-feira, 28 de outubro de 2009





Eu não tenho cabelos vermelhos e o meu vestido não é amarelo. Eu sou só uma menina invisível, deitada na grama invisível que a moça que não sabia desenhar, não desenhou. Aquele é o menino que eu não lhe falei. Ele sempre está preso num único instante; o instante em que o moço que sabia desenhar, o desenhou.

O balão que subia as nuvens, com várias crianças chamando, teve de desviar o caminho, pois não fazia parte desse desenho. O avião que trazia uma faixa, com linda declaração de amor, teve de mudar a rota, pois neste céu azul é que não foi desenhado. O pombo-correio que veio voando de fora da imagem, bateu o bico na borda e caiu. Por isso, o menino está sempre só.

Se as crianças do balão não conseguiram. Se o avião também não conseguiu. Se nem o pombo-correio teve sucesso, como é que eu, uma menina invisível, feita de palavras, poderia chegar até ele? Foi o que passei dias e dias pensando. Então, numa de minhas viagens, ouvi dizer que uma imagem valia mais do que mil palavras. Não tive dúvidas. Abri a oficina invisível, acendi as luzes transparentes e comecei a construir este imenso abraço de palavras. De mil e duas palavras. Para, um dia, entregar a ele.

rita apoena


Deitada na grama, o céu empoeirado de estrelas. Passei o dedo e - curioso - algumas vieram grudadas na ponta. Olhei para cima e assoprei. Foi tanta estrela caindo que agora eu mal consigo enxergar de tanta esperança.



Rita Apoena

segunda-feira, 26 de outubro de 2009



"Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi."




[Fernando Pessoa]

sexta-feira, 23 de outubro de 2009


Quando eu saí de uma importante depressão, eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava deveria existir em algum lugar do planeta. Nem se fosse apenas dentro de mim... Mesmo se ele não existisse em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construi-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas em que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor, e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, qualquer coisa para ocupar o tempo, um banco de almofadas coloridas, e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banco do nosso amor, do nosso grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a não sei quantos anos, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas.

Rita Apoena


Hoje eu comprei sementes de girassol. Há isso de extraordinário no mundo. Quando alguém se sente só ou com saudade de outrém pode comprar sementes de girassol para vê-lo crescer. Pode até fazer uma sementeira de tulipas. Neste caso, é preciso aguar todos os dias, com a ponta dos dedos, deixando cair uma ou duas gotas, apenas. Já as coisas abrutalhadas, máquinas, tratores ou edifícios, deixo aos outros, cuidarem. Também elas precisam de carícias: não vê o homem pendurado nas vidraças com um pano molhado? Não vê a máquina acarinhando a outra com a lixa? Há muitas formas de cuidar. E, felizmente, o delicado e o bruto na esfera do mundo. Se me ocupo da semente é porque escuto o seu silêncio. O silêncio com que ela abraça, tão brandamente, o seu grãozinho de terra.

[Rita Apoena]



Doçura
Nasci dura, heróica, solitária e em pé.
E encontrei meu contraponto na paisagem
sem pitoresco e sem beleza.
A feiúra é o meu estandarte de guerra.
Eu amo o feio com um amor de igual para igual.
E desafio a morte.
Eu - eu sou a minha própria morte.
E ninguém vai mais longe.
O que há de bárbaro em mim
procura o bárbaro e cruel fora de mim.
Vejo em claros e escuros os rostos das pessoas que vacilam às chamas da fogueira.
Sou uma árvore que arde com duro prazer.
Só uma doçura me possui:
a conivência com o mundo.
Eu amo a minha cruz,
a que doloridamente carrego.
É o mínimo que posso fazer de minha vida:
aceitar comiseravelmente o sacrifício da noite.



Por – Clarice Lispector



'Acordei cedinho, fiquei comendo maçãs e ouvindo Caetano cantar 'Trem das Cores' (a franja da encosta, cor de laranja, capim rosa chá) para dar o tom do dia. O tom veio, colorido. '




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[Caio Fernando de Abreu]

quinta-feira, 22 de outubro de 2009




"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."
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(Morte e Vida Severina)

joão cabral de melo neto
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minhas mãos asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta as sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
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[João Cabral de Melo Neto ]

quarta-feira, 21 de outubro de 2009



Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta. Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho.
Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo.
Ao longe alguém canta.
Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro.
Será de outro.
Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro.
Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,a minha alma não se contenta por havê-la perdido. Embora seja a última dor que ela me causa,e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.



Pablo Neruda

terça-feira, 20 de outubro de 2009



"De quem é o olharque espreita por meus olhos?
Quando penso que vejo,
quem continua vendo enquanto estou pensando?
Por que caminhos seguem,
não os meus tristes passos,
mas a realidadede eu ter passos comigo?"
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Fernando Pessoa

segunda-feira, 19 de outubro de 2009



Entre os Loucos, os Mortos e as Crianças,
É lá que eu canto, numa eterna ronda,
Nossos comuns desejos e esperanças!...
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[Mario Quintana]

sexta-feira, 16 de outubro de 2009



O poeta chegara ao alto da montanha,
E quando ia a descer a vertente do oeste
,Viu uma coisa estranha,
Uma figura má.
Então, volvendo o olhar ao subtil, ao celeste,
Ao gracioso Ariel,
que de baixo o acompanha,
Num tom medroso e agreste
Pergunta o que será.
Como se perde no ar um som festivo e doce
,Ou bem como se fosse
Um pensamento vão,
Ariel se desfez sem lhe dar mais resposta.
Para descer a encosta
O outro lhe deu a mão.
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Machado de Assis

A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal.
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Machado de Assis

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

"O pé da criança não sabe que é péE quer ser borboleta ou maçã...Pois logo... os vidros e as pedras, as ruas, as escadas e os caminhos de terra dura,Vão ensinando ao pé que não pode voar, então foi derrotado,Caíu na batalha,Foi prisioneiroE condenado a viver no sapato".
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[Neruda]


Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poçoonde a claridade está presa.
Há que sentar-se na beirado poço da sombra
e pescar luz caída com paciência."
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[Neruda]

terça-feira, 13 de outubro de 2009



O homem é um bicho curioso, sacrifica uma relação e parte para outra por ambição. Se casa cedo, pensa que faltou conhecer mais mulheres antes. Se casa tarde, acredita que quando solteiro havia mais chances de ser feliz. Homem é um bicho nostálgico. Nunca está satisfeito com o que tem. Fica enjoado com rapidez. Enjoa-se de si mesmo. Ao invés de melhorar e treinar com afinco, troca o técnico ou culpa a torcida. O homem cogita que é desfavorecido. Enquanto come olha o prato do outro. Deveria aprender mais com os pássaros. Um pássaro não morde vários frutos ao mesmo tempo, para descobrir o sabor de cada um deles. Não estraga os frutos pela ânsia da posse. Não quer ter todos, mas ser todos em um. Não destrói a árvore para fazer barulho. Ao pegar um fruto num dia, volta ao mesmo fruto no dia seguinte. É leal e econômico no afeto. Descasca o sumo de leve com o bico e toma cuidado para não assustar os insetos dentro. É devoto em sua escavação. Leva o alimento para os filhotes, abastece seus olhos africanos, engrossa seu ninho de estrelas e regressa ao seu ponto de origem. Um fruto durará uma semana em seus volteios. Até não sobrar nada, até a semente ficar lustrada de sol. O homem é um bicho insatisfeito. Deixa marcas, cicatrizes, tatuagens e provas de que esteve ali. Morde uma cesta inteira de maçãs sem sequer terminar uma delas, sem conhecer a alegria do pecado de se dedicar somente a uma delas. Pode amar para provocar ciúme, abandonar uma paixão para mostrar independência, trair para magoar, ferir para gerar autoridade. Interessa-se pela quantidade, por contar quantas mulheres teve, por contar quantas vidas perdeu. O pássaro é um bicho invisível. Não muda a ordem, é capaz de arrumar sua cama mesmo hospedado em hotel. O homem deveria observar mais os pássaros. Eles mordiscam os brincos das árvores e não derrubam as orelhas. Não precisam de platéia para matar a fome. São concentrados, não se dispersam na avidez. Os pássaros circundam, namoram, seduzem a fruta antes de pousar. Batem as asas com força para depois descer o próprio corpo flanando. Têm imaginação. A imaginação hidrata e faz a saliva subir. Um romance sem imaginação é livro técnico. Um amor sem imaginação é manual de geladeira. Um homem sem imaginação é um bicho esquisito. Ao transar sem imaginação apenas arruma sua gravata no espelho. Ao mastigar sem imaginação vai apoiar os cotovelos na mesa. Ao abraçar sem imaginação carregará garrafas vazias. Um homem sem imaginação é um bicho morto.
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[Carpinejar]

Amadurecer é não estar preparado.
Quem afirma o contrário
envelheceu antes de amadurecer.
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[Fabrício Carpinejar]

sexta-feira, 9 de outubro de 2009



Minha mulher,
a solidão,
Consegue que eu não seja triste.
Ah, que bom é o coração
Ter este bem que não existe!
Recolho a não ouvir ninguém,
Não sofro o insulto de um carinho
E falo alto sem que haja alguém:Nascem-me os versos do caminho.
Senhor, se há bem que o céu conceda
Submisso à opressão do Fado,
Dá-me eu ser só - veste de seda -,
E fala só - leque animado.
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Fernando Pessoa, 27-8-1930




Boa noite ;)

Você tem medo de se apaixonar.
Medo de sofrer o que não está acostumada.
Medo de se conhecer e esquecer outra vez.
Medo de sacrificar a amizade.
Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros.
Medo se o telefone toca, se o telefone não toca.
Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa.
Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo.
Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de um olhar insistente.
Não suportar ser olhada com esmero e devoção.
Nem os anjos, nem Deus agüentam uma reza por mais de duas horas.
Medo de ser engolida como se fosse líquido, de ser beijada como se fosse líquen, de ser tragada como se fosse leve.
Você tem medo de se apaixonar por si mesma logo agora que tinha desistido de sua vida.
Medo de enfrentar a infância, o seio que criou para aquecer as mãos quando criança, medo de ser a última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar.
Você tem medo de se apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer.
Medo de se roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta.
Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quer, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia.
Medo do imprevisível que foi planejado.
Medo de que ele morda os lábios e prove o seu sangue.
Você tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo.
O corpo mais lado da fraqueza.
Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado.
Medo de se ultrapassar e se esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso possam se coincidir novamente.
Medo de largar o tédio, afinal você e o tédio enfim se entendiam.
Medo de que ele inspire a violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira repartir ele com mais ninguém, nem com seu passado.
Medo de que não queira se repartir com mais ninguém, além dele.
Medo de que ele seja melhor do que suas respostas, pior do que as suas dúvidas.
Medo de que ele não seja vulgar para escorraçar mas deliciosamente rude para chamar, que ele se vire para não dormir, que ele se acorde ao escutar sua voz.
Medo de ser sugada como se fosse pólen, soprada como se fosse brasa, recolhida como se fosse paz.
Medo de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas.
Medo de ser antecipada e ficar sem ter o que dizer.
Medo de não ser interessante o suficiente para prender sua atenção.
Medo da independência dele, de sua algazarra, de sua facilidade em fazer amigas.
Medo de que ele não precise de você.
Medo de ser uma brincadeira dele quando fala sério ou que banque o sério quando faz uma brincadeira.
Medo do cheiro dos travesseiros.
Medo do cheiro das roupas.
Medo do cheiro nos cabelos.
Medo de não respirar sem recuar.
Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo.
Medo de não ser convincente na cama, persuasiva no silêncio, carente no fôlego.
Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade.
Medo de não soltar as pernas das pernas dele.
Medo de soltar as pernas das pernas dele.
Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir.
Medo da vergonha que vem junto da sinceridade.
Medo da perfeição que não interessa.
Medo de machucar, ferir, agredir para não ser machucada, ferida, agredida.
Medo de estragar a felicidade por não merecê-la.
Medo de não mastigar a felicidade por respeito.
Medo de passar pela felicidade sem reconhecê-la.
Medo do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar.
Medo de interromper o que recém iniciou, de começar o que terminou.
Medo de faltar as aulas e mentir como foram.
Medo do aniversário sem ele por perto, dos bares e das baladas sem ele por perto, do convívio sem alguém para se mostrar.
Medo de enlouquecer sozinha.
Não há nada mais triste do que enlouquecer sozinha.
Você tem medo de já estar apaixonada.
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[Fabrício Carpinejar]



"Nenhum amor, há tanto tempo, ando até pensando que amor é como uma espécie de fantasia com o Papai Noel, (...). Será? Por favor, me desmente."

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"Repito sempre: sossega, sossega - o amor não é para o teu bico."
[Caio Fernando de Abreu]


Oh! Não me chamas coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito,
És bela - eu moço;
tens amor, eu - medo!...
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Casimiro de Abreu

quinta-feira, 8 de outubro de 2009


Quando eu morrer quero ficar
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça Esqueçam.
No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano: Um coração vivo e um defunto Bem juntos.
Escondam no Correio o ouvido Direito,
o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia, Sereia.
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do IpirangaPara cantar a liberdade.
Saudade...
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

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Mário de Andrade



É triste, mas é lindo ;)

Cada qual sabe amar a seu modo;
o modo, pouco importa;
o essencial é que saiba amar.





Machado de Assis

quarta-feira, 7 de outubro de 2009


"Dai-me um ponto de apoio e levantarei o mundo."

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Arquimedes


Obrigada por todos os comentários e descupem minha falta de atenção, é que últimamente estou super ocupada.
Um noite cheia de paaaz ;)


Se tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades
teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando,
falei muitas vezes como um palhaço
mas jamais duvidei da sinceridade da platéia que sorria.

terça-feira, 6 de outubro de 2009



Porque os outros se mascaram mas tu não] Porque os outros usam a virtude Para comprar o que não tem perdão. Porque os outros têm medo mas tu não. Porque os outros são os túmulos caiados] Onde germina calada a podridão. Porque os outros se calam mas tu não. Porque os outros se compram e se vendem] E os seus gestos dão sempre dividendo. Porque os outros são hábeis mas tu não.] Porque os outros vão à sombra dos abrigos] E tu vais de mãos dadas com os perigos.] Porque os outros calculam mas tu não. .

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[Fabrício Carpinejar]

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

"São tantas as diferenças que noto entre o que sinto e vejo, que, se me lembro de tragédias pessoais, acendo um cigarro e saio do poema"
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[Fabrício Carpinejar ]

Quando menino, meu pai estendia os tapetes na janela.
Quando casado, minha mulher estendia os travesseiros na janela.
Novamente solteiro, estendo meus casacos na janela.
O sol do parapeito lava meus laços.
A sala que foi um dia o quarto que foi um dia o guarda-roupa.
Fui-me enforcando na gola, nervo de lã, lar reduzido.
Não deveria ter acreditado na revolução sexual.
Posso morar numa gaveta.
Morrer no cabide.
Não serei usado.
Até as frutas apodrecendo na cozinha não estão sozinhas.
Os insetos dividem sua despedida.
Não trago mais reservas.
Na infância, catava moedas que minha mãe deixava na bolsa.
Baldeava provisões, limpava enganos, respirava o couro.
Havia onde procurar.
Na vida adulta, caçava rostos amassados dos bolsos, cédulas dobradas nos forros, guardava visitas. Havia onde me procurar.
Esquecer nos enriquecia.
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[Fabrício Carpinejar]


Tão bom viver dia a dia...A vida assim, jamais cansa...Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...
E só ganhar, toda a vida,Inexperiência...
esperança...E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...