quarta-feira, 28 de outubro de 2009





Eu não tenho cabelos vermelhos e o meu vestido não é amarelo. Eu sou só uma menina invisível, deitada na grama invisível que a moça que não sabia desenhar, não desenhou. Aquele é o menino que eu não lhe falei. Ele sempre está preso num único instante; o instante em que o moço que sabia desenhar, o desenhou.

O balão que subia as nuvens, com várias crianças chamando, teve de desviar o caminho, pois não fazia parte desse desenho. O avião que trazia uma faixa, com linda declaração de amor, teve de mudar a rota, pois neste céu azul é que não foi desenhado. O pombo-correio que veio voando de fora da imagem, bateu o bico na borda e caiu. Por isso, o menino está sempre só.

Se as crianças do balão não conseguiram. Se o avião também não conseguiu. Se nem o pombo-correio teve sucesso, como é que eu, uma menina invisível, feita de palavras, poderia chegar até ele? Foi o que passei dias e dias pensando. Então, numa de minhas viagens, ouvi dizer que uma imagem valia mais do que mil palavras. Não tive dúvidas. Abri a oficina invisível, acendi as luzes transparentes e comecei a construir este imenso abraço de palavras. De mil e duas palavras. Para, um dia, entregar a ele.

rita apoena

3 comentários:

  1. Ah, uma menina de cabelos vermelhos já me causou muito sofrimento há um tempo atrás...nem sei se ainda quero alguém assim...mas se é pra não gostar dela, como assim ela disse, eu gostei...quando somos proibidos de algo é que as coisas acabam acontecendo...

    Acho que o impossivel só existe para pessoas com coragem provarem que todo mundo pode ir onde quiser... se acreditar...

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  2. que lindo.. onde vc consegue estes tipos de poemas e versos..?? eu nunca encontro..

    =D

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  3. que lindo,
    sempre ótimas escolhas
    bom feriado...

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