terça-feira, 12 de janeiro de 2010




“O Que Eu Adoro em ti,

Não é a tua beleza.

A beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito.

E a beleza é triste.

Não é triste em si,

Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti,

Não é a tua inteligência.

Não é o teu espírito sutil,

Tão ágil, tão luminoso,

- Ave solta no céu matinal da montanha.

Nem é a tua ciência

Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti,

Não é a tua graça musical,

Sucessiva e renovada a cada momento,

Graça aérea como o teu próprio pensamento.

Graça que perturba e que satisfaz.

O que eu adoro em ti,

Não é a mãe que já perdi.

Não é a irmã que já perdi.

E meu pai.

O que eu adoro em tua natureza,

Não é o profundo instinto maternal

Em teu flanco aberto como uma ferida.

Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!

O que eu adoro em ti, é a vida”


Bandeira, Manoel, Madrigal Melancólico, in: Poesia Completa e Prosa /

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