segunda-feira, 30 de agosto de 2010
não há pior inferno que o teu inferno
nenhum se compara,
às voltas na cama à noite,
o teu cu regelado
a tua cabeça a arder,
tudo sem sentido, sem sentido,
enquanto estás preso ao teu pobre corpo e à
tua pobre vida
e está tudo a dissolver-se, a dissolver-se devagar
em nada.
como todos os outros corpos, como todas as outras
vidas,
estamos a ser excluídos,
postos de lado
pela doença
pelo facto de suportar
dias difíceis, anos difíceis.
não há saída para
isto, temos apenas que suportar,
aceitar –
ou melhor –
não pensar muito
nisso.
calçar e descalçar.
as férias vão e vêm.
olá,
adeus.
vestir, despir.
comer, dormir.
conduzir o automóvel.
pagar os impostos.
lavar os sovacos e
o pescoço
e esfregar tudo o
resto, para ter a certeza.
escolher atempadamente o
caixão.
sentir a boa madeira.
escolher o suave, alcochoado, caro
interior.
o vendedor irá dizer que
tens muito bom
gosto.
depois horrorizá-lo.
dizer-lhe que queres experimentar,
ver se é do teu tamanho.
não há pior inferno que o teu
inferno e não há ninguém que
o comparti-lhe
contigo.
[Charles Bukowski]
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