terça-feira, 8 de setembro de 2009



Sei de uma criatura antiga e formidável,Que a si mesma devora os membros e as entranhas,Com a sofreguidão da fome insaciável.Habita juntamente os vales e as montanhas;E no mar, que se rasga, à maneira do abismo,Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.Traz impresso na fronte o obscuro despotismo;Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,Parece uma expansão de amor e egoísmo.Friamente contempla o desespero e o gozo,Gosta do colibri, como gosta do verme,E cinge ao coração o belo e o monstruoso.Para ela o chacal é, como a rola, inerme;E caminha na terra imperturbável, comoPelo vasto arealum vasto paquiderme.Na árvore que rebenta o seu primeiro gomoVem a folha, que lento e lento se desdobra,Depois a flor, depois o suspirado pomo.Pois essa criatura está em toda a obra:Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto,E é nesse destruir que as suas forças dobra.Ama de igual amor o poluto e o impoluto;Começa e recomeça uma perpétua lida;E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a morte; eu direi que é a vida.

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