segunda-feira, 30 de novembro de 2009



    Se alguém bater um dia à tua porta,
    Dizendo que é um emissário meu,
    Não acredites, nem que seja eu;
    Que o meu vaidoso orgulho não comporta
    Bater sequer à porta irreal do céu.

    Mas se, naturalmente, e sem ouvir
    Alguém bater, fores a porta abrir
    E encontrares alguém como que à espera
    De ousar bater, medita um pouco. Esse era
    Meu emissário e eu e o que comporta
    O meu orgulho do que desespera.
    Abre a quem não bater à tua porta!

    Fernando Pessoa, 5-9-1934.

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