terça-feira, 27 de abril de 2010




A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que näo ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?

Ah ! falta quem o lance ao mar, e alado
Tome seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhä, puro e salgado.

Morto corpo da açäo sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.

Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é papa além do mar a ansiada llha.

[Fernando Pessoa]


Sem tempo =~

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