domingo, 4 de julho de 2010





Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.


[Álvaro de Campos]

3 comentários:

  1. Wonderfull....well done Flávia.

    greetings, Joop

    ResponderExcluir
  2. Lindo,texto ~ amei ~
    Beijos
    http://nuvem-de-amor.blogspot.com

    ResponderExcluir
  3. muito lindo seu texto ... cheio de sentimiento y de amor....

    un beijo

    bom comeco de semana

    ResponderExcluir