Ah,quanta melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,Que sinto inútil e fria
Dentro do meu coração!
Que angústia desesperada!
Que mágoa que sabe a fim!
Se a nau foi abandonada,E o cego caiu na estrada -Deixai-os, que é tudo assim.
Sem sossego, sem sossego,Nenhum momento de meu
Onde for que a alma emprego -Na estrada morreu o cego
A nau desapareceu.
Fernando Pessoa, 3-9-1924.
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