terça-feira, 21 de julho de 2009






Outros terão
Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo.
A inteira, negra e fria solidão
Está comigo.
A outros talvez
Há alguma coisa quente, igual, afim
No mundo real.

Não chega nunca a vez
Para mim.
"Que importa?"Digo, mas só Deus sabe que o não creio.
Nem um casual mendigo à minha portaSentar-se veio.
"Quem tem de ser?"Não sofre menos quem o reconhece.
Sofre quem finge desprezar sofrer
Pois não esquece.
Isto até quando?
Só tenho por consolação
oQue os olhos se me vão acostumando
À escuridão.





Fernando Pessoa, 13-1-1920.

Nenhum comentário:

Postar um comentário